SOMATÓRIA
Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro,
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
01) No poema, a oscilação da métrica, do ritmo e das rimas, apesar de não se traduzir em completa liberdade formal, demonstra como o poeta afasta-se das tendências e preceitos clássicos, fato recorrente na lírica de Cláudio Manuel da Costa.
02) Embora não apresente especificamente a demanda do locus amoenus, o espaço a que o poema remete traduz a tendência de representação da natureza verificada na produção de Cláudio Manuel da Costa e de seus colegas de escola literária.
04) O poema apresenta uma particularidade de Cláudio Manuel da Costa: a representação de cenários brasileiros, destacando a importância da temática nativista – no presente caso, a mineração – para o autor.
08) A temática da exploração dos recursos minerais – no caso, o ouro – remete o leitor ao espaço geográfico em que ocorreu a Inconfidência Mineira, movimento do qual Cláudio Manuel da Costa fez parte juntamente com outros poetas.
16) O enfoque nacionalista do poema, com destacada preocupação de natureza política e econômica, demonstra como o poeta insere-se no contexto da primeira geração romântica brasileira, chamada de “nacionalista” em função de tal abordagem.