SOMATÓRIA
Assinale o que for correto a respeito do poema “Sinfonias do ocaso” e de seu autor, Cruz e Sousa.
Musselinosas como brumas diurnas
Descem do ocaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas.
Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da Lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridão das furnas.
Ah! por estes sinfônicos ocasos
A terra exala aromas de áureos vasos,
Incensos de turíbulos divinos.
Os plenilúnios mórbidos vaporam...
E como que no Azul plangem e choram
Cítaras, harpas, bandolins, violinos...
(Broquéis)
Vocabulário:
- Musselinosas: transparentes, como o tecido chamado “musselina”.
- Sidéreas: celestiais.
- Furnas: cavernas.
- Turíbulos: vasos onde se queimam incensos.
- Plenilúnios: referente à lua cheia.
01) O poema, em forma de soneto e com predomínio de versos decassílabos, aponta para um aspecto em comum com os parnasianos na obra de Cruz e Sousa. O tema, porém, mostra-se totalmente simbolista, uma vez que contempla imagens e sensações que evocam sombras crepusculares, estados oníricos e espaços etéreos.
02) Os versos “Musselinosas como brumas diurnas”, “Sombras veladas e musselinosas” e “Os plenilúnios mórbidos vaporam” acentuam uma característica própria do Simbolismo, ou seja, a reação contra o subjetivismo exagerado do Romantismo. Nesse sentido, os versos enfatizam a objetividade dos fatos e, rejeitando a alusão, resultam em um poema marcado pelo exercício estéril da arte pela arte.
04) Os versos do poema revelam intensa musicalidade, não só pelo emprego de termos como cítaras, harpas, bandolins e violinos, mas, sobretudo, por sua camada sonora, composta por aliterações (“Sacrários virgens, sacrossantas urnas”), assonâncias (“do ocaso as sombras harmoniosas”), repetições de palavras (“musselinosas”) e de ideias em versos diferentes (“musselinosas como brumas diurnas” / “sombras veladas e musselinosas”).
08) O poema pode ser considerado uma perfeita realização simbolista em razão da utilização de imagens que veiculam uma visão intuitiva e obscura da realidade, bem como pela exploração do sistema sensorial – tato, visão, paladar, olfato e audição. Para expressar essas impensáveis combinações entre diferentes órgãos do sentido, o eu-poético tem como recurso a sinestesia, como se pode ver no verso “Sombras veladas e musselinosas”, que acentua a correspondência entre sensações visuais e táteis.
16) O poema sintetiza as intensas emoções do eu-poético diante do pôr do sol, criando, com o recurso de uma linguagem mais densa, que explora sensações vagas, um cenário mais misterioso e fluido do que real, como se pode perceber pelos versos: “Ah! por estes sinfônicos ocasos/ A terra exala aromas de áureos vasos/ Incensos de turíbulos divinos”.