Questão
Universidade Estadual de Maringá - UEM
2017
Fase Única
SOMATORIAAssinale-que8014c28bb51
Discursiva
SOMATÓRIA

Assinale o que estiver correto a respeito da poesia de Carlos Drummond de Andrade.

Poema 1: “Memória” – publicado no livro Claro Enigma, 1951.

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(ANDRADE, C. D. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 210)

Poema 2 (excerto): “A flor e a náusea” – publicado no livro A rosa do povo, 1945.

[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
[...]

(ANDRADE, C. D. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 33)

01) No poema “Memória”, há regularidade rítmica que pode ser facilmente percebida. Os versos têm cinco sílabas poéticas e esquema rímico aab/aab/ccb/ddb, o que também revela recorrência. Como se vê, as sílabas poéticas nasais que encerram cada uma das estrofes rimam, remetendo metaforicamente ao trabalho da memória, que revisita aquilo que já foi visto.

02) No poema “Memória”, o tema gira em torno de um eu lírico que perdeu algo de que gostava muito, motivo pelo qual agora se encontra confuso, sem saber o que fazer. Tudo o que resta é a memória do objeto e, portanto, a tristeza e a melancolia pela felicidade agora impossível. Se não é possível possuir o objeto perdido, como consolação fica a memória do que já foi, que nunca está à altura do objeto mesmo; daí o tom pesado do poema.

04) No trecho transcrito do poema “A flor e a náusea”, percebemos o uso de versos brancos, com métrica não regular, duros como a cidade e o contexto que narram: o mundo convulso e o sujeito que nele tenta se localizar. Todas as imagens são brutais: iludir a polícia, romper o asfalto, o imperativo de parar as atividades produtivas, a feiúra da flor, o ritmo da cidade, seu irracionalismo. A estética precisa estar à altura dessa tarefa, motivo pelo qual o poema tem um andamento análogo.

08) No trecho transcrito de “A flor e a náusea”, a imagem da flor imaculada forjada ao longo dos séculos está mantida. Há uma oposição completa e irrestrita entre a flor e a feiúra do mundo circundante. A partir da leitura, sabe-se que é preciso resgatar a pureza, a perfeição, a regularidade e a delicadeza da natureza idealizada, para contrapor a um mundo frio e cinzento em que estamos fadados a viver. A poesia, assim, funciona como um refúgio em que podemos criar outros mundos, belos e harmônicos. Daí a flor contra a náusea do mundo.

16) Carlos Drummond de Andrade é um dos poetas mais influentes da literatura brasileira. Livros como A rosa do povo(1945) e Claro enigma(1951) são marcos de nossa poesia. Em A rosa do povo, publicada no ano em que termina a Segunda Guerra Mundial, percebe-se uma preocupação social e política, com olhos para o coletivo social, e não para o indivíduo fechado sobre si mesmo. Isso indica como a poesia não é alheia ao mundo e não se resume à expressão solitária de um indivíduo autocentrado.