SOMATÓRIA
Leia o poema de Augusto dos Anjos e assinale o que for correto.
Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
ANJOS, A. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 103.
Vocabulário:
- quimera – referência às fantasias inalcançáveis, às ilusões, às utopias.
01) O autor do poema é classificado pela crítica como escritor tipicamente parnasiano. Isso porque seus versos, a exemplo do que ocorre no poema transcrito, são caracterizados pela descrição, pela impessoalidade face ao objeto descrito e pelo tom racional das ideias e das imagens, à moda de Olavo Bilac.
02) O eu lírico dirige-se a um interlocutor – um amigo – para explicar-lhe que a causa das desilusões humanas são as quimeras, ou seja, as ilusões, os sonhos, as fantasias. Sendo assim, o melhor para o “Homem” é não depositar ou nutrir esperança em coisa alguma ou em alguém.
04) No último terceto, o eu lírico aconselha o seu interlocutor a apedrejar a mão que o afaga e a escarrar na boca que o beija. Isso porque, se assim o fizer, ele simplesmente estará se antecipando à desilusão que, inevitavelmente, sucede à quimera, conforme já anunciara no primeiro terceto.
08) A decomposição da matéria é um dos temas mais recorrentes da obra de Augusto dos Anjos. Nesse poema, o verso “Acostuma-te à lama que te espera!” remete a essa ideia. Por outro lado, o vocábulo “lama” pode, também, ser entendido no sentido figurado – como “sujeira” – no âmbito das relações humanas.
16) O poema (constituído de versos livres) assim como os demais poemas de Augusto dos Anjos são considerados precursores do Modernismo brasileiro. Isso porque são marcados pela liberdade formal, pela casualidade dos temas abordados e, acima de tudo, pela irreverência da linguagem, como se pode constatar em vocábulos como “escarro”, “lama”, “cigarro”.