SOMATÓRIA
Leia o poema abaixo, de Augusto dos Anjos, e assinale o que for correto sobre o texto, sobre seu autor e sobre sua obra.
Soneto
Ao meu primeiro filho nascido
morto com 7 meses incompletos
2 fevereiro 1911.
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!...
Ah! Possas tu dormir feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
(ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 40-41.)
Vocabulário
- Noumenalidade: referente a númeno, a realidade tal como existe em si mesma, de forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o conhecimento humano.
01) A temática da morte do filho, tratada de maneira sentimental quando faz referência ao natimorto, é um dos elementos caracterizadores de Augusto dos Anjos como representante da terceira geração romântica brasileira, cujos autores produziram a maior parte de suas obras na passagem do século XIX para o XX.
02) A utilização de termos como “neuronial”, “morfogênese” e “plásmica” aponta para uma das características mais marcantes da obra de Augusto dos Anjos: o uso de termos de cunho científico em seus poemas, procedimento que traz ecos da escola naturalista.
04) A liberdade formal apresentada no poema, elemento recorrente em um primeiro momento da obra de Augusto dos Anjos, fez o autor ser tomado como modelo pela geração da Semana de Arte Moderna de 1922, uma vez que antecipava muitas de suas tendências formais.
08) Em sua obra, Augusto dos Anjos não se furtou a utilizar vocábulos que destoassem do padrão oficial de sua época. Ao mesmo tempo, sua obra apresenta termos filosóficos, frutos de uma visão de mundo pessimista e angustiada, traduzida em versos que marcam a originalidade do poeta no quadro da poesia brasileira de então.
16) Embora tenha sido valorizado apenas em momento posterior, Augusto dos Anjos foi reconhecido por alguns poucos e significativos representantes da literatura de sua época, como Olavo Bilac, que o aclamou como “príncipe desconhecido dos poetas brasileiros”.