Questão
Universidade Estadual de Maringá - UEM
2014
Fase Única
SOMATORIALeia-texto6869155c37a
Discursiva
SOMATÓRIA

Leia o texto e assinale o que for correto sobre ele e sobre seu autor, Cláudio Manoel da Costa.

XXXIII

Aqui sobre esta pedra, áspera, e dura,
Teu nome hei de estampar, ó Francelisa,
A ver, se o bruto mármore eterniza
A tua, mais que ingrata, formosura.

Já cintilam teus olhos: a figura
Avultando já vai; quanto indecisa
Pasmou na efígie a idéia, se divisa
No engraçado relevo da escultura.

Teu rosto aqui se mostra; eu não duvido,
Acuses meu delírio, quando trato
De deixar nesta pedra o vulto erguido;

É tosca a prata, o ouro é menos grato;
Contemplo o teu rigor: oh que advertido!
Só me dá esta penha o teu retrato!

(Cláudio Manoel da Costa, Melhores poemas, São Paulo: Global, 2000, p. 62)

01) Cláudio Manoel da Costa foi um dos mais importantes poetas da estética neoclássica na literatura brasileira. Formado nos padrões eruditos da Europa, mesmo assimilando traços do Barroco, sua obra situa-se no Arcadismo. O poeta, um intelectual, também expressa, com sua identidade pastoril – Glauceste Satúrnio –, a geografia rude de sua terra natal, com destaque para vales, montanhas e riachos. 

02) No poema, a forma escolhida pelo poeta para tratar do tema foi a écloga, composição de caráter pastoril e geralmente dialogada. Composto de quatro quadras, com versos heptassílabos (sete sílabas poéticas) e brancos, de ritmo popular, o poema apresenta o diálogo entre Francelisa e o artista, momento em que discutem o valor da escultura na rocha.

04) A leitura do poema propicia a percepção de uma das características mais conhecidas da obra de Cláudio Manoel da Costa – “a imaginação de pedra” –, aspecto que revela sua fixação pelo cenário da terra natal. O desejo de esculpir a figura da mulher amada na rocha – “Teu rosto aqui se mostra; eu não duvido” – indica, inclusive, a aproximação entre o objeto de afeição e esse aspecto geográfico marcante da obra do poeta.

08) Na segunda estrofe, o “eu poético”, a partir de inversões sintáticas, considera que, embora a figura da amada já esteja tomando vulto – “já cintilam seus olhos” –, trata-se de uma imagem vaga, uma escultura incompleta, o que a faz engraçada – “No engraçado relevo da escultura”.

16) Os últimos versos (“Contemplo o teu rigor: oh que advertido!/ Só me dá esta penha o teu retrato!”) contêm a chamada chave de ouro do poema, ou seja, condensam sua essência, revelando o desconsolo do eu poético ao constatar que somente a pedra, em razão de sua dureza, pode lhe dar o rosto da amada, porque Francelisa é tão rígida quanto o mármore bruto (a penha bruta).