Questão
Universidade Estadual de Maringá - UEM
2016
Fase Única
SOMATORIALeia52816d25c0c
Discursiva
SOMATÓRIA

Leia atentamente o poema “Soneto da Esperança Perdida”, de Carlos Drummond de Andrade, e assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

01) O soneto é uma forma de composição fixa, que faz uso de alguns recursos formais de organização das estrofes e de um esquema de rimas, com o qual o leitor visivelmente se depara no poema de Drummond, a saber: dois quartetos e dois tercetos; no que tange ao ritmo, as rimas em ABBA e ABBA, CDC e DCD marcam a harmonia dos versos.

02) O fato de Drummond optar pelo soneto mostra a característica arcaizante de sua poesia, bem marcada nos versos por um típico carpe diem horaciano, que se concretiza nos seguintes versos: “Todos eles conduzem ao/ princípio do drama e da flora”.

04) O poema mostra uma profunda desilusão do eu-lírico com a vida. No primeiro verso, o verbo “perder”, utilizado no pretérito perfeito do indicativo, reforça a ideia de malogro, de algo que passou e não se recupera mais. Além disso, o uso da conjunção aditiva “e” entre os substantivos “bonde” e “esperança” reforça a representação de uma voz que lamenta o tempo perdido, não restando mais esperanças quanto à vida.

08) O soneto em questão reflete um eu todo retorcido da poesia drummondiana, o sujeito inadaptado ao mundo, que sofre sozinho sua dor, não sendo raro este mesmo eu estar supostamente em dúvida quanto ao próprio sofrimento, como se sua dor divertisse outras pessoas na noite: “Não sei se estou sofrendo/ou se é alguém que se diverte/por que não? na noite escassa/com um insolúvel flautim.”

16) O final do poema sugere que a desilusão nos versos poderia advir de uma certeza: a inevitabilidade da morte. Todos os caminhos levariam ao princípio “do drama e da flora”. No entanto, há uma expansão do eu-lírico no último verso (“nós gritamos”) que apontaria para o desejo dos homens de alcançar algo mais, corporificado no vocábulo “eterno”, com conotações de eternidade (vida após a morte), e também de transcendência em geral.