SOMATÓRIA
A Teoria da Literatura chama de narrativa literária o texto que, organizado em torno de um conflito ou mais de um, confere tratamento particular a elementos que lhe são constitutivos, como narrador, personagens, espaço/ambiente, tempo e história. Tal tratamento constitui fator de distinção entre o que é considerado, ou não, literatura, em determinados momentos históricos.
01) Toda narrativa pressupõe a figura de um narrador, ou seja, quem conta a história, responsável por estabelecer o foco narrativo a partir do qual a história vai ser contada. Isso implica dizer que, nem sempre, o foco narrativo é o ponto de vista do narrador. A história pode ser contada por um narrador onisciente a partir do ponto de vista de uma personagem qualquer, bem como por um narrador em primeira pessoa, a partir de seu próprio ponto de vista ou de outrem. O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Bentinho.
02) Considerada pela Teoria Literária um dos mais importantes elementos constitutivos da narrativa, a personagem consiste na transposição de pessoas reais para o universo ficcional do texto. Assim, cada personagem de ficção encontra seu correspondente na realidade extraliterária. Isso, no entanto, não interfere na leitura, já que todas as informações necessárias à compreensão do texto estão nele presentes. Em O cobrador, de Rubem Fonseca, boa parte das personagens que integram os contos aí enfeixados é transposição direta de figuras reais marginalizadas, moradoras da periferia dos grandes centros.
04) Uma das possíveis maneiras de se analisar o tempo de uma narrativa é a partir da duração da história. O narrador, no entanto, pode se posicionar de diferentes maneiras em relação ao tempo dos acontecimentos: pode narrar os fatos no mesmo tempo em que eles estão acontecendo; pode apresentá-los como já concluídos, intercalando presente e passado (flashback); ou, entre outras maneiras, pode adiantar acontecimentos (prolepses). Em Os ratos, de Dyonélio Machado, a história se passa num intervalo de aproximadamente vinte e quatro horas e é narrada em terceira pessoa de maneira presentificada; isso implica dizer que os fatos são narrados sem que haja distanciamento temporal entre o momento em que correram e o momento em que são contados.
08) O espaço/ambiente consiste no cenário por onde circulam as personagens e onde se desenrola a história. Em alguns casos, pode alcançar status de personagem, como ocorre em O cortiço, de Aluísio Azevedo. Não raro, há relação entre a personagem, seu comportamento e o ambiente em que ela se insere. Em “Bugio moqueado”, por exemplo, conto de Monteiro Lobato, integrante da coletânea Negrinha, a sala de jantar, semelhante a uma alcova, além de escura e abafada, rescendendo a um cheiro esquisito, nauseante, de carne mofada, exerce fundamental importância no modo como o protagonista avalia o anfitrião: “a secura e a má cara do facínora não davam azo à mínima expansão de familiaridade; e, ou fosse real ou efeito do ambiente, pareceu-me ele inda mais torvo em casa do que fora em pleno sol”.
16) A história, também conhecida no âmbito da Teoria Literária como fábula, é o desenrolar dos acontecimentos. Geralmente, a história aparece centrada em um conflito, sendo este último responsável pelo nível de tensão da narrativa. Sendo assim, pode-se afirmar que a história do conto “O revólver da paixão”, de Nélida Piñon, integrante da coletânea O calor das coisas, gira em torno da paixão não correspondida da protagonista por um policial militar que acaba morto, vítima de crime passional executado com sua própria arma.