SOMATÓRIO
TEXTO: O banco da língua
"És a um só tempo esplendor e sepultura"! − disse o bardo Olavo Bilac da "Última Flor do Lácio", talvez já prenunciando a gradual deterioração da língua portuguesa, em constante mutação etimológica.
Quem fala, faz a língua. Eis um truísmo levado ao pé da letra pelos jovens desta era cibernética, que levam uma existência muito mais oral do que escritural. Antigamente, para comunicar-se com um primo no oeste do Estado, o jovem era obrigado a escrever uma carta. Hoje, disca pelo celular - e bate um papo recheado de gírias e abreviaturas.
Quem não ama a sua língua? A dita língua "mãe" é o verdadeiro DNA da alma nacional. A religião, os costumes, o folclore, as tradições, tudo pode ser subvertido por uma revolução, ou pela dominação do mais forte. A linguagem, não. A língua é um distintivo vocal que nenhuma tirania pode revogar. Os galeses cultivam a sua, vertente derivada do Celta, com um zelo tal que, em pleno Reino Unido, os filmes de televisão em Cardiff e região exibem legenda no dialeto gaélico. Os bascos, todos sabemos, valem-se até do terrorismo para preservar e manter a "língua-mãe".
A língua materna deveria ser, portanto, essa conjunção carnal entre a pátria e a sua expressão oral e escrita. Há patriotas que matam e morrem por esses valores. O brasileiro parece ser uma despreocupada exceção. Vibra pela pátria só quando Ronaldinho penetra na meia-lua, na antesala (sic) de um gol.
Nosso Português parece tão "esbarrondado", como gostam de denunciar os d'além-mar, referindo-se ao "dialeto brasileiro, falho, rasgado e desmoronado", que as autoridades educacionais deveriam criar uma espécie de "Banco da Palavra", uma agência fortemente reguladora como o Banco Central.
Não é o Banco Central o "guardião da moeda"? Pois é: estamos urgentemente necessitados de um guardião para a nossa língua. (...) Linguagens populares e jargões, além de um autêntico festival de anglicismos, estão "dialetizando" o Português brasileiro. Experimentem ler os nomes de lojas e lanchonetes em algum Shopping Center: o que mais se vê são os genitivos saxônicos, estilo McDonald's, Bob's, Ric's, Sac's − e por aí afora. (...)
O "Banco" de preservação do Português poderia valorizar e depurar o seu ensino nas escolas de primeiro e segundo graus. As autoridades francesas, por exemplo, lançaram programas de resistência ao tropel do Inglês, que assume a categoria de um novo Esperanto − uma língua quase universal. Loja com nome estrangeiro paga mais imposto...
Português e Espanhol são ambas línguas românicas, neolatinas, derivadas do romance, o dialeto da Península Ibérica depois da dominação de Roma. Mas nossas semelhanças param por aí: enquanto a língua de Cervantes é sempre cultivada como um patrimônio nacional, a de Camões é bela, sim, mas pouco a querem os seus próprios jovens locutores e escritores.
Sérgio da Costa Ramos, Diário Catarinense, 23/08/98, p. 55.
VOCABULÁRIO:
bardo - 1 Poeta heróico ou lírico entre os celtas e gálios. 2 Trovador.
truísmo - 1 Verdade evidente, que está a entrar pelos olhos de toda a gente.
2 Evidência, verdade banal, trivialidade.
Considerando as proposições abaixo, assinale a(s) VERDADEIRA(S).
01. Na frase Estes livros importados custam muito caro, o vocábulo caro funciona como advérbio.
02. Em Deveria ser adotado um outro procedimento que, ressalte-se, já era esperado por todos, o pronome se está empregado corretamente.
04. A frase a seguir não apresenta erro quanto à concordância nominal: Ela parecia meio desanimada.
08. Com relação à divisão silábica, as palavras su - bli - nhar, su - bli - me e sub - ro - gar estão corretas.
16. Quanto à pontuação, a frase a seguir, do 3º parágrafo do texto, está correta: (...) Os galeses cultivam a sua, vertente derivada do Celta, com um zelo tal que, em pleno Reino Unido, os filmes de televisão (...).
32. Na frase O brasileiro parece ser uma despreocupada exceção, a palavra despreocupada é formada pelo processo de composição.