SOMATÓRIO
Texto 1
O inspetor chegou antes do tempo previsto, sinal de que viera apressado. Mau sinal, no seu entender. Viu-o, da janela, caminhando a passos lentos em direção ao ateliê. Se viera correndo, agora não demonstrava pressa. Deteve-se algum tempo no topo da escada apreciando a mangueira. Bia o esperava na porta.
- Gosta de manga, inspetor? Essas são mangas-espada sem fiapo, uma preciosidade.
- E, pelo tanto que a mangueira está florida, a senhora terá uma bela colheita.
- Mandarei algumas para o senhor.
- Obrigado, mas por favor não mande para a delegacia, os policiais nem sempre são honestos.
O rápido diálogo no topo da escada serviu para aliviar um pouco a tensão da espera.
- Entre, inspetor. Aceita um café?
- Aceito. Com pouco açúcar, por favor. Muito agradável, seu ateliê.
Enquanto tomava café, Espinosa vagava pela sala olhando atentamente os objetos, verificando a marca dos pincéis, apreciando as caixas de lápis, detendo-se em cada prateleira da estante. O olhar, contudo, não parecia policial, mas estético. Por fim, falou:
- Magníficos seus pincéis e suas tintas acrílicas, mas o que mais me fascina são seus lápis de cor. Recordações de infância, talvez, embora os meus não fossem Caran d’Ache.
- O senhor entende de arte, inspetor?
- Não... A menos que, como Thomas de Quincey, consideremos o assassinato como uma bela arte. - E acrescentou: - Já leu Thomas de Quincey?
- Lamento, inspetor. Sobre o que escreveu?
- Sobre suas experiências com ópio e sobre o crime. Tinha verdadeira paixão pelo assassinato, mas era um pacato inglês que não fazia mal a ninguém. Apenas escrevia sobre assassinato, não o praticava.
- É seu autor predileto, inspetor? - Havia um leve toque de ironia na voz.
- É um belo escritor - respondeu Espinosa - , mas não meu predileto.
- E o senhor sugere algum que não escreva apenas sobre ópio e assassinatos?
- Sem dúvida. Tenho particular simpatia pela literatura americana: Hemingway, Steinbeck, Faulkner e, sobretudo, Melville. Considero Bartleby uma pequena obra-prima. E nele não há nem ópio, nem assassinatos acrescentou com um sorriso.
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. O Silêncio da Chuva. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 35-37.
Nos exemplos a seguir, retirados do texto 1, de Garcia-Roza, existem descrições - de movimentos e de características de seres - sendo percebidas pela visão, tato e paladar. Em relação ao especificado, assinale a(s) proposição(ões) FALSA(S).
01. “Viu-o, da janela, caminhando a passos lentos em direção ao ateliê.”
02. “- É seu autor predileto, inspetor? - Havia um leve toque de ironia na voz.”
04. “Se viera correndo, agora não demonstrava pressa. Deteve-se algum tempo no topo da escada apreciando a mangueira.”
08. “- O senhor entende de arte, inspetor?”
16. “Enquanto tomava café, Espinosa vagava pela sala olhando atentamente os objetos, verificando a marca dos pincéis, apreciando as caixas de lápis, detendo-se em cada prateleira da estante. O olhar, contudo, não parecia policial, mas estético.”