Questão
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
2002
Fase Única
SOMATORIOTexto-1O628783bc0c4
Discursiva
SOMATÓRIO

Texto 1

O inspetor chegou antes do tempo previsto, sinal de que viera apressado. Mau sinal, no seu entender. Viu-o, da janela, caminhando a passos lentos em direção ao ateliê. Se viera correndo, agora não demonstrava pressa. Deteve-se algum tempo no topo da escada apreciando a mangueira. Bia o esperava na porta.

- Gosta de manga, inspetor? Essas são mangas-espada sem fiapo, uma preciosidade.

- E, pelo tanto que a mangueira está florida, a senhora terá uma bela colheita.

- Mandarei algumas para o senhor.

- Obrigado, mas por favor não mande para a delegacia, os policiais nem sempre são honestos.

O rápido diálogo no topo da escada serviu para aliviar um pouco a tensão da espera.

- Entre, inspetor. Aceita um café?

- Aceito. Com pouco açúcar, por favor. Muito agradável, seu ateliê.

Enquanto tomava café, Espinosa vagava pela sala olhando atentamente os objetos, verificando a marca dos pincéis, apreciando as caixas de lápis, detendo-se em cada prateleira da estante. O olhar, contudo, não parecia policial, mas estético. Por fim, falou:

- Magníficos seus pincéis e suas tintas acrílicas, mas o que mais me fascina são seus lápis de cor. Recordações de infância, talvez, embora os meus não fossem Caran d’Ache.

- O senhor entende de arte, inspetor?

- Não... A menos que, como Thomas de Quincey, consideremos o assassinato como uma bela arte. - E acrescentou: - Já leu Thomas de Quincey?

- Lamento, inspetor. Sobre o que escreveu?

- Sobre suas experiências com ópio e sobre o crime. Tinha verdadeira paixão pelo assassinato, mas era um pacato inglês que não fazia mal a ninguém. Apenas escrevia sobre assassinato, não o praticava.

- É seu autor predileto, inspetor? - Havia um leve toque de ironia na voz.

- É um belo escritor - respondeu Espinosa - , mas não meu predileto.

- E o senhor sugere algum que não escreva apenas sobre ópio e assassinatos?

- Sem dúvida. Tenho particular simpatia pela literatura americana: Hemingway, Steinbeck, Faulkner e, sobretudo, Melville. Considero Bartleby uma pequena obra-prima. E nele não há nem ópio, nem assassinatos - acrescentou com um sorriso.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. O Silêncio da Chuva. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 35-37.

Assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S), observando as afirmativas referentes à obra indicada de Garcia-Roza.

01. Espinosa, personagem de O Silêncio da Chuva, recebeu dos pais um apartamento por herança. A avó deixou livros para ele. Morava sozinho desde o falecimento da mãe de seu pai. Os vizinhos sabiam que ele era da polícia, mas Espinosa nunca fez comentário algum sobre o fato. Nas últimas páginas desse romance policial, o inspetor descobriu que Welber havia disparado a arma contra Ricardo Carvalho. Sabia quem assassinara tantas pessoas.

02. Dona Maura, mãe de Rose, fora encontrada morta. Lucena, ao investigar o caso, viu uma cena horrível. O vidrinho de amônia denunciava a brutalidade com que essa pessoa idosa havia sido torturada antes de morrer. Lucena contou tudo isso para Carmem, sua secretária, e continuou procurando por Rose.

04. No final da parte “Preferia não fazê-lo” Rose decidiu seduzir Aurélio, como última medida para escapar do seqüestrador. Após algum tempo, ela percebeu que o homem estava azulado e havia morrido. Rose, psicologicamente perturbada, não cessava de falar isto: “Inspetor Espinosa da 1a DP”.

08. Alba era dona de uma academia; Bia tinha um ateliê; Júlio se identificava como professor; Rose mantinha-se como secretária de Ricardo; Carmem trabalhava na Delegacia, junto a Espinosa; Lucena gostava de comer mangas; Maura adorava a filha Rose. Todos esses são personagens que aparecem na parte “As duas artes”, do livro O Silêncio da Chuva.

16. Welber precisou ser operado às pressas, porque foi atingido por uma bala. Na cirurgia, foi-lhe retirado o baço. Enquanto o paciente se restabelecia no hospital, Espinosa prosseguia na sua busca pelo assassino. Fazia muitas perguntas ao dono do hotel e continuava procurando por um objeto ou envelope no quarto onde Rose estivera hospedada.