Sempre dou um tempo pra pensar no poema e na vida (um poema que não leve o leitor a pensar na vida não tem a menor razão de ser) e daí ponho-me a imaginar eu e Elisa na mesma faculdade, frequentando a biblioteca atrás dos livros de literatura. O curso de Direito que imagino é baseado tão somente em livros de literatura. Com certeza, não existiria profissão mais bonita. Nem mais nobre. Um curso de onde eu sairia casado com Elisa, conhecedor de todos os romances e pronto pra viver bastante e, quem sabe, um dia, tornar-me um escritor que seria lido por um adolescente qualquer de uma cidadezinha qualquer que, comovido com minhas palavras, também decidiria ser advogado e depois escritor. Era um destino bonito, nada a ver com os chatos que ficavam discutindo política, impondo-se aos outros pela força da repetição e do fingimento. Eu poderia me fazer amado nos livros e só os que tivessem algum interesse pelas mesmas coisas de que gosto iriam me tomar como uma possibilidade de modelo.
(SANCHES NETO, Miguel. Chove sobre minha infância. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. p. 177.)
Com base no trecho e na leitura integral da obra, assinale a alternativa correta.