Questão
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP
2021
1ª Fase
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe –, a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.

É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro, que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra.

ALVES, Rubem. A Escutatória. Disponível em: <https://amominhaidade.com.br/saude>. Acesso em: jan. 2021. Com cortes.


Sobre o penúltimo parágrafo do texto, está correto o que se afirma em
A
A expressão “Para mim” funciona como um termo circunstancial de referência, enquanto o pronome “isto” faz uma alusão catafórica a outro elemento do discurso com o qual estabelece uma relação de dependência.
B
Os substantivos abstratos “beleza”, nas duas ocorrências, e “alma” exercem a função de núcleos do sujeito – paciente, no que diz respeito ao primeiro termo, e agente no que se refere ao segundo.
C
O aposto oracional “a beleza que se ouve no silêncio” e o predicativo do sujeito “uma catedral submersa” encerram os recursos estilísticos identificados como sinestesia e metáfora.
D
O conector “que” possui valor conjuntivo e introduz, no contexto frasal, uma oração subordinada substantiva, e o vocábulo “também” denota inclusão.
E
A última oração do parágrafo – “Somos todos olhos e ouvidos.” – registra uma falha de concordância verbal, já que o sujeito dessa sentença é “todos”, posposto à forma verbal “Somos”.