Ser mulher...
Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...
Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...
Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!
(MACHADO, Gilka. Poesias completas. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial: FUNARJ, 1991. p.106)
No Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986: 1647), encontramos a seguinte informação sobre “tantálico”: “Relativo a, ou próprio de tântalo, figura lendária, cujo suplício, por haver roubado os manjares dos deuses para dá-los a conhecer aos homens, era estar perto de água, que se afastava quando tentava bebê- la e sob árvores que encolhiam os ramos quando lhes tentava colher os frutos.”
Considerando a informação acima somada ao conhecimento sobre a tradição simbolista da qual essa poesia faz parte, demonstre, a partir de elementos textuais, que ser mulher no texto se relaciona à ideia de “tantálica tristeza”.