Sófocles, um dos grandes autores do teatro grego antigo, escreveu a tragédia Antígona, na qual Creonte, rei de Tebas, proíbe que Polinices, filho de Édipo e irmão de Antígona, seja sepultado. Flagrada desobedecendo ao edito real, Antígona é levada à presença de Creonte, ocasião em que se estabelece o seguinte diálogo:
CREONTE – [...](a Antígona) dize-me, sem rodeios; sabias que te era vedado, por um edito, fazer o que fizeste?
ANTÍGONA – Sim, sabia-o bem. Como poderia ignorá-lo, se toda gente o sabe?
CREONTE – E, apesar disso, atreveste-te a passar por cima da lei?
ANTÍGONA – [...] não creio que os teus decretos tenham tanto poder que permitam a alguém saltar por cima das leis, não escritas, mas imutáveis, dos deuses; a sua vigência não é, nem de hoje nem de ontem, mas de sempre, e ninguém sabe como e quando apareceram.
SÓFOCLES. Antígona. Lisboa: Verbo, [s. d.]. p. 24.
Algumas concepções desse trecho de Sófocles estão também presentes nas idéias de John Locke, um dos grandes pensadores políticos do Iluminismo do século XVIII. Sófocles e Locke têm um pensamento comum quando concebem que