Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,

      É verdade, meu Deus, que hei delinquido,

      Delinquido vos tenho, e ofendido,

      Ofendido vos tem minha maldade.

5 Maldade, que encaminha à vaidade,

      Vaidade, que todo me há vencido;

      Vencido quero ver-me, e arrependido,

      Arrependido a tanta enormidade.

      Arrependido estou de coração,

10 De coração vos busco, dai-me os braços,

      Abraços, que me rendem vossa luz.

      Luz, que claro me mostra a salvação,

      A salvação pretendo em tais abraços,

      Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

GREGÓRIO de Matos. Obras completas de Gregório de Matos. Volume I. Salvador: Ed. Janaína, s/d. p. 46.

Sobre aspectos formais do poema, está correto o que se afirma em

I. A construção desse soneto se opera através da reiteração ou repetição de ideias de um verso, literalmente retomadas no verso subsequente, recurso que reforça a coesão das ideias apresentadas.

II. Nos dois últimos versos do primeiro quarteto, há uma transposição ou inversão da ordem natural das palavras na sequência normal dos termos da oração, o que constitui um hipérbato, uma figura de construção.

III. Na primeira parte do soneto, formada pelos dois quartetos, todos os substantivos são empregados com sentido metafórico, o que constitui uma característica da linguagem do momento literário a que se filia o autor.

IV. A veneração e o respeito com que, nesse poema, o eu poético se dirige à divindade estão evidenciados no uso reiterado do tratamento em segunda pessoa do singular, bem como do uso de letras maiúsculas na inicial dos versos.

V. Como evidência da ampla liberdade formal que caracteriza o Barroco, há uma variação do esquema de rimas entre as duas primeiras estrofes e também entre os dois tercetos, característica da rebeldia do autor frente aos cânones da época.

A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a