Stella do Patrocínio e a loucura no Brasil
Como uma mulher negra e pobre foi internada à força por trinta anos em um hospício no Rio e, depois da sua morte, foi considerada poeta.
Redação Quatro Cinco Um
Conhecida após sua morte pelo livro Bicho do reino e dos animais é o meu nome (2001), Stella do Patrocínio foi considerada poeta sem se definir assim. Sua poesia foi tirada dos seus falatórios, gravados nos anos 80.
Stella do Patrocínio nasceu em 9 de janeiro de 1941 no Rio de Janeiro, por onde ela andava muito a pé. Sua internação forçada ocorreu em 1962, quando ela tinha 21 anos, e ela passou os próximos trinta anos encarcerada, até sua morte, em 1992. O último emprego de Stella do Patrocínio foi como empregada doméstica.
Sua fama póstuma aconteceu com a publicação do livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, organizado pela poeta e filósofa Viviane Mosé, que saiu pela Azougue Editorial em 2001 e foi finalista do Prêmio Jabuti. Apesar de ter sido então reconhecida como poeta, ela nunca se definiu assim e não escreveu nenhuma das linhas presentes no livro.
A potência das suas palavras se encontra no seu falatório (como chamava suas falas), que foi preservado em fitas pela artista plástica Carla Guagliardi, então estagiária das oficinas de arte da Colônia Juliano Moreira, entre 1986 e 1988. As conversas entre as duas foram gravadas ao longo desses anos, e Reino dos bichos e dos animais é o meu nome fez um recorte das frases de Patrocínio nesses diálogos.
Até então sob posse de Guagliardi, essas gravações entraram recentemente em domínio público, cedidas pela artista para a dissertação de mestrado Stella do Patrocínio: entre a letra e a negra garganta de carne, defendida em 2021 por Sara Martins Ramos na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Colônia Juliano Moreira
A Colônia Juliano Moreira foi um antigo engenho de açúcar. A última proprietária do terreno, uma baronesa, perdeu a posse da propriedade, que passou para o poder público, e o local foi transformado na Colônia de Psicopatas de Jacarepaguá, em 1924. Mais tarde, o local passou a ser chamado Colônia Juliano Moreira, em homenagem ao médico psiquiatra negro que defendia a tese de que as doenças mentais eram causadas menos por características hereditárias e mais por consequência do ambiente social.
O manicômio foi o lugar de internação de Arthur Bispo do Rosário, que, após ser internado, foi reconhecido como grande artista plástico. Apesar do seu passado controverso, atualmente a Colônia é um bairro que ensina sobre como conviver com a loucura de uma maneira natural.
(Disponível em <https://www.quatrocincoum.com.br/br/podcasts/repertorio-451-mhz/stella-do-patrocinio-e-a-loucura-no-brasil> Acesso em 16 mai. 2022)
A palavra em destaque em: “Sua internação forçada ocorreu em 1962, quando ela tinha 21 anos, e ela passou os próximos trinta anos encarcerada, até sua morte, em 1992” foi formada por um processo de