TEXTO 02
Florzinha continuava a esperar, porque continuava a viver. Na sua fronte se crestavam pouco a pouco as louçanias da mocidade, e essas não voltariam com o verdor e as flores da próxima estação. Seu corpo era ainda a lâmpada que se acendera para o Pentecostes do amor; mas a chama interior doidejava batida por um sopro que tentava extingui-la, deixando às vezes na sombra do desespero seus olhos, que já não choravam. Exauriuse-lhe o lacrimal, como as fontes dos campos: reinava também o verão em sua alma, esterilizando-a para as florações do sonho. Seu coração se ressecara como esses torrões agrestes onde só medram os cardos, que não precisam do orvalho para medrar e ferir.
(Aves de Arribação)