Questão
Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC - GO
2016
Fase Única
TEXTO-4-Aprigio-Saia759ec648fa5
TEXTO 4 

Aprígio – Saia, Dália! (Dália abandona o quarto, correndo, em desespero. Sogro e genro, face a face) Vim aqui para. 

Arandir (para o sogro quase chorando) – Está satis feito? 

Aprígio – Vim aqui. 

Arandir (na sua cólera) – Está satisfeito? O senhor é um dos responsáveis. Eu acho que é o senhor. O senhor que está por trás... 

Aprígio – Quem sabe? 

Arandir – Por trás desse repórter. O senhor teve a coragem de. Ou pensa que eu não sei? Selminha me contou. Contou tudo! O senhor fez insinuações. Insinuações! A meu respeito! 

Aprígio – Você quer me. 

Arandir (sem ouvi-lo) – O senhor fez tudo! Tudo pra me separar de Selminha! 

Aprígio – Posso falar? 

Arandir (erguendo a voz) – O senhor não queria o nosso casamento! 

Aprígio (violento) – Escuta! Vim aqui saber! Escuta! Você conhecia esse rapaz?  

Arandir (desesperado) – Nunca vi. 

Aprígio – Era um desconhecido? 

Arandir – Juro! Por tudo que há de mais! Que nun ca, nunca! 

Aprígio – Mentira!  

Arandir (desesperado) – Vi pela primeira vez! Aprígio – Cínico! (muda de tom, com uma Ferocidade) Escuta! Você conhecia o rapaz. Conhecia! Eram amantes! E você matou. Empurrou o rapaz! Arandir (violento) – Deus sabe! 

Aprígio – Eu não acredito em você. Ninguém acre dita. Os jornais, as rádios! Não há uma pessoa, uma única, em toda a cidade. Ninguém! 

Arandir (com a voz estrangulada) – Ninguém acre dita, mas eu! Eu acredito, acredito em mim! Aprígio – Você, olha! 

Arandir – Selminha há de acreditar! 

Aprígio (fora de si) – Cala a boca! (muda de tom) Eu te perdoaria tudo! Eu perdoaria o casamento. Escuta! Ainda agora, eu estava na porta ouvindo. Ouvi tudo. Você tentando seduzir a minha filha menor! 

Arandir – Nunca! 

Aprígio – Mas eu perdoaria, ainda. Eu perdoaria que você fosse espiar o banho da cunhada. Você quis ver a cunhada nua. 

Arandir – Mentira!  

Aprígio – Eu perdoaria tudo. (mais violento) Só não perdoo o beijo no asfalto. Só não perdoo o beijo que você deu na boca de um homem! 

Arandir (para si mesmo) – Selminha! 

Aprígio (muda de tom, suplicante) – Pela última vez,  

diz! Eu preciso saber! Quero a verdade! A verdade! Vocês eram amantes? (sem esperar a resposta, furioso) Mas não responda. Eu não acredito. Nunca, nun ca, eu acreditarei. (numa espécie de uivo) Ninguém acredita! 

Arandir – Vou buscar minha mulher. (Aprígio recua, puxando o revólver.) 

Aprígio (apontando) – Não se mexa! Fique onde está! 

Arandir (atônito) – O senhor vai. 

Aprígio – Você era o único homem que não podia casar com a minha filha! O único! 

Arandir (atônito e quase sem voz) – O senhor me odeia porque. Deseja a própria filha. É paixão. Carne. Tem ciúmes de Selminha. 

Aprígio (num berro) – De você! (estrangulando a voz) Não de minha filha. Ciúmes de você. Tenho! Sempre. Desde o teu namoro, que eu não digo o teu nome. Ju rei a mim mesmo que só diria teu nome a teu cadáver. Quero que você morra sabendo. O meu ódio é amor. Por que beijaste um homem na boca? Mas eu direi o teu nome. Direi teu nome a teu cadáver. 

(Aprígio atira, a primeira vez. Arandir cai de joelhos. Na queda, puxa uma folha de jornal, que estava aberta na cama. Torcendo-se. abre o jornal, como uma espécie de escudo ou bandeira. Aprígio atira, nova mente, varando o papel impresso. Num espasmo de dor, Arandir rasga a folha. E tomba, enrolando-se no jornal. Assim morre.) 

Aprígio – Arandir! (mais forte) Arandir! (um último canto) Arandir!  

Cai a luz, em resistência, sobre o cadáver de Arandir. Trevas.(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 101-104.) 

O Texto 4, fragmento final da peça O beijo no as falto, de Nelson Rodrigues, mostra um personagem que se defende de acusações e outro que acredita estar ouvindo mentiras. A mentira parece ser inerente à condição humana. Aparelhos como o polígrafo e o chamado “soro da verdade” foram criados no intuito de detectar se uma pessoa está ou não mentindo. O princípio ativo do soro da verdade é o pentotal sódico, ou sódio tiopental, cuja fórmula molecular é C₁₁H₁₇N₂NaSO₂. Essa substância parece quebrar a inibição dos pacientes. Trata-se de um barbitúrico, portanto derivado do ácido barbitúrico, ou uma malonilureia, que penetra quase que imediatamente no Sistema Nervoso Central (SNC). Sabe-se que a penetração no SNC depende da lipossolubilidade da molécula. Segundo a bula do medicamento, a dose máxima recomendada para maior segurança do paciente é de 1 grama do fármaco, aplicada intermitentemente, de acordo com a necessidade e a resposta do paciente. 

Com base nas informações sobre o tiopental sódico, assinale a única alternativa correta: 

A
Sua molécula é bastante polar, o que justifica sua rápida penetração no SNC.
 
B
O tiopental sódico é exemplo de uma substância inorgânica de caráter ácido.

 
C
Para atingir exatamente a dose máxima recomendada para maior segurança do paciente, seriam necessários 4,0 mL de uma solução a 2,5% m/v.
 
D
Na composição centesimal do tiopental sódico, observa-se que o hidrogênio é o elemento presente em menor porcentagem em massa.