Questão
Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC - GO
2018
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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TEXTO 4

1

Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse em um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue, e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns soldados mandou então que todos saíssem, que só podia ficar ali a polícia e mais ninguém. 

Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o fato eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira o meu pai com o revólver na mão e minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a dona Clarisse!” Por quê? Ninguém sabia compreender. 

O que eu sentia era uma vontade desesperada de ir para junto de meus pais, de abraçar e beijar minha mãe. Mas a porta do quarto estava fechada, e o homem sério que entrara não permitia que ninguém se aproximasse dali. O criado e a ama, diziam, estavam lá dentro em interrogatório. O que se passou depois não me ficou bem na memória. 

À tarde o criado leu para a gente da cozinha os jornais com os retratos grandes de minha mãe e de meu pai. Ouvi aquilo como se fosse uma história de Trancoso. Pareciam-me tão longe, já, os fatos da manhã, que aquela narrativa me interessava como se não fossem os meus pais os protagonistas. Mas logo que vi na página de um dos jornais a minha mãe estendida, com os cabelos soltos e a boca aberta, caí num choro convulso. Levaram-me então para a praça que ficava perto de minha casa. Lá estavam outros meninos do meu tamanho, e eu brinquei com eles a tarde toda. As criadas é que conversavam muito sobre o meu pai e a minha mãe, contando umas às outras coisas a que eu não prestava atenção, pois no que eu cuidava era nos meus brinquedos com os amigos. 

Na hora de dormir foi que senti de verdade a ausência de minha mãe. A casa vazia e o quarto dela fechado. Um soldado ficara tomando conta de tudo. As criadas de perto queriam vir conversar por ali. O soldado não consentia. Botaram-me para dormir sozinho. E o sono demorou a chegar. Fechava os olhos, mas me faltava qualquer coisa. Pela minha cabeça passavam, às pressas e truncados, os sucessos do dia. Então comecei a chorar baixinho para os travesseiros, um choro abafado de quem tivesse medo de chorar. 

 (REGO, José Lins do. Menino de engenho. 102. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. p. 25-26.)

O Texto 4 relata uma tragédia: um menino que presencia o assassinato da mãe pelo pai. Esse relato pode nos conduzir a diversas reflexões. É inevitável a morte, mas é importante rever valores, para distinguir o fútil do prioritário. Segundo Sócrates, o filósofo teria como única ocupação preparar-se para morrer. Já que o nosso tema é a morte, analise as afirmativas a seguir e marque a alternativa correta:
A
Para Heidegger, o homem está especialmente me-diado por seu passado: o ser do homem é um “ser que caminha para a morte”, e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O panorama de sua teoria é o do sentido de “ser”: os modos e as maneiras de enunciação e expressão de ser. Nesse sentido, o importante está em alcançar o melhor sentido de ser, para enfrentar a morte. 
B
Para Montaigne, a expressão “morrer” vai muito além de seu sentido comum. Para ele, há apenas uma forma de se deparar com a morte: a contemplação. Meditar sobre a morte é meditar sobre a responsabilidade. Para esse pensador é fundamental temer a morte, pois, dessa forma, o ser consegue adiar a morte.  
C
Para Nietzsche, o homem vivencia a morte de forma covarde; a morte covarde seria aquela em que a pessoa reluta, se esconde, tenta se esquivar. Essa morte é cercada de um desejo de se evitar, de qualquer jeito, sua chegada. O objetivo é a longevidade.  
D
Para Sartre, a morte é a “existência de todas as minhas possibilidades, existência essa que já faz parte de minhas possibilidades”. O homem é condicionalmente livre. Ao nascer, ele tem diversas possibilidades e, ao morrer, ele finaliza todas essas possibilidades conforme as escolhas feitas livremente. A morte é a certeza de que sua vida teve uma finalidade.