TEXTO 4
Versos a um coveiro
Augusto dos Anjos
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
(ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978)
a) Os versos de Augusto dos Anjos (1884 – 1914) já foram considerados “exatos como fórmulas matemáticas”.
(ROSENFELD, Anatol. A costeleta de prata de A. dos Anjos. Texto/contexto, São Paulo: Perspectiva, 1969, p. 268).
Justifique essa afirmativa, destacando aspectos formais do Texto 4.
b) Transcreva de “Versos a um coveiro” palavras e expressões científicas, estabelecendo um contraste entre o poema de Augusto dos Anjos e a tradição romântica, no que se refere à abordagem da temática da morte.