Questão
Universidade Estadual do Ceará - UECE
2020
2ª Fase
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TEXTO 6

O Poeta da Roça

160. Sou fio das mata, cantô da mão grosa
161. Trabaio na roça, de inverno e de estio
162. A minha chupana é tapada de barro
163. Só fumo cigarro de paia de mio

164. Sou poeta das brenha, não faço o papé
165. De argum menestrê, ou errante cantô
166. Que veve vagando, com sua viola
167. Cantando, pachola, à percura de amô

168. Não tenho sabença, pois nunca estudei
169. Apenas eu seio o meu nome assiná
170. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre
171. E o fio do pobre não pode estudá

171. Meu verso rastero, singelo e sem graça
172. Não entra na praça, no rico salão
173. Meu verso só entra no campo da roça e
174. [dos eito
175. E às vezes, recordando feliz mocidade
176. Canto uma sodade que mora em meu peito.
177. [...]
178. Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
179. Coberto de trapo e mochila na mão,
180. Que chora pedindo o socorro dos home,
181. E tomba de fome, sem casa e sem pão.

182. E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
183. Eu vivo contente e feliz com a sorte,
184. Morando no campo, sem vê a cidade,
185. Cantando as verdade das coisa do Norte.

Adaptada de ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá: Filosofia de um trovador nordestino. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 1978.

Patativa do Assaré, apesar de ter inúmeros poemas publicados, não escrevia nenhum deles. Com habilidade inacreditável de memorização, o poeta decorava todos seus poemas. Todos os versos que hoje podemos ver são graças ao trabalho de outras pessoas que se empenharam em transcrever os poemas do poeta, seja ouvindo diretamente do poeta, seja através de gravações. Deste modo, sua poesia é fortemente marcada pela oralidade. No texto de Patativa do Assaré, aparecem expressões da fala popular como “Sou fio das mata, cantô da mão grosa” (linha 160), “Trabaio na roça, de inverno e de estio”, (linha 161) “Cantando, pachola, à percura de amô” (linha 167). Considerando este aspecto da poesia de Patativa do Assaré, atente para as seguintes afirmações:

I. Este tipo de linguagem revela, no texto, uma escrita de estilo coloquial marcada pelo uso consciente de palavras próprias da fala.

II. As expressões coloquiais utilizadas no texto revelam o lugar de onde veio o poeta e sua história, deixando claro que a poesia que produz é sobre as coisas simples da vida.

III. O emprego destes coloquialismos revela a cultura local em que o autor está inserido.

Está correto o que se afirma em
A
I, II e III.
B
I e III apenas.
C
II e III apenas.
D
I e II apenas.