Questão
Universidade de Pernambuco - UPE
2010
Fase Única
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TEXTO A

Conter a obesidade é um desafio tão urgente para o Brasil quanto acabar com a fome. Ninguém sabe ao certo quantos são os famintos brasileiros, mas o programa Fome Zero pretende atingir 44 milhões de pessoas. Por outro lado, o contingente com excesso de peso já ultrapassa a assustadora marca dos 70 milhões - cerca de 40% da população. Não há dúvida: o Brasil que come mal é maior do que o Brasil que tem fome. Apesar do tamanho do problema, falta ao país um esforço maciço de combate ao flagelo da gordura, que abre caminho para o surgimento de mais de 30 doenças e sobrecarrega o orçamento da saúde com internações hospitalares que poderiam ser evitadas. 'As autoridades não podem achar que há contradição entre atacar a fome e a obesidade ao mesmo tempo', comenta o endocrinologista Walmir Coutinho, 'mas os dois são problemas complementares.'

Mesmo entre os pobres, a ocorrência de excesso de peso supera a fome. 'Nas favelas, verifica-se que a obesidade é mais prevalente que a desnutrição', comenta Coutinho. Nos últimos 20 anos, a obesidade infanto-juvenil cresceu 66% nos Estados Unidos e desencadeou uma batalha jurídica contra as cadeias de fast-food semelhante à guerra contra o tabaco. No Brasil, o crescimento ocorreu com um ritmo especialmente acelerado nas camadas sociais mais baixas. A consciência do problema ainda é incipiente, embora a Organização Mundial de Saúde tenha declarado a obesidade uma epidemia global que ameaça principalmente os países em desenvolvimento. Dos 6 bilhões de habitantes do planeta, 1,7 bilhão está acima do peso. A exportação do modelo americano de progresso - urbanização, proliferação de carros, junk food e longas jornadas de trabalho em frente ao computador - leva países emergentes, como Brasil, Índia e África do Sul, a um paradoxo. Em duas gerações, grande parte da população passou da desnutrição à obesidade porque teve acesso a grande quantidade de comida barata e ruim, industrializada, cheia de gorduras e açúcar.

O resultado é desastroso: as pessoas ganham peso sem acumular nutrientes essenciais. A classe média e os ricos encontram meios eficazes de combater a obesidade, responsável por 30% das mortes no Brasil. Podem pagar por programas de emagrecimento e atividade física não acessíveis aos menos favorecidos. Por isso, cada vez mais a obesidade estará relacionada à pobreza. 'A fome é uma tragédia que precisa ser combatida, mas a obesidade atinge ainda mais gente no Brasil e acarreta um ônus mais elevado’, comenta o endocrinologista Alfredo Halpern, um dos fundadores da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade.

A gravidade da situação exige um esforço articulado de saúde pública e medidas criativas.

(http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT590194-1653,00.html)

Todo texto é marcado por uma continuidade e uma unidade que se manifestam, desde a sua superfície, pelo uso de diferentes recursos lexicais e gramaticais. Essa continuidade e essa unidade constituem as propriedades da coerência e da coesão do texto. Nesse sentido, analise as observações que são feitas a seguir.

I. Quanto à unidade temática do texto, percebe-se que a questão tratada se bifurca numa relação paradoxal: por um lado, os que têm fome; por outro, os que sofrem de obesidade. No meio, a ideia de que a obesidade não é prerrogativa dos ricos.

II. O paralelismo expresso na comparação: “Não há dúvida: o Brasil que come mal é maior do que o Brasil que tem fome.” reitera o ponto de vista que dá unidade de sentido ao texto. Essa reiteração assegura a coesão e a coerência do texto.

III. No início do penúltimo parágrafo, o autor afirma: “O resultado é desastroso: as pessoas...”. A compreensão do termo sublinhado resulta do conhecimento do vocabulário, de maneira que não é necessário voltar a partes anteriores do texto para identificar o objeto referido.

IV. A concentração lexical do texto em palavras da mesma área semântica (como saúde, obesidade, gordura, comida, fome, desnutrição etc.), associada a outros recursos da coesão, concorre para a sustentação de sua coerência global.

V. Como conclusão, o texto fala em: “A gravidade da situação”. Mas que ‘situação’? O autor supõe que o leitor, encadeando diferentes pontos do texto, é capaz de identificar o objeto que está sendo referido na expressão grifada.

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas CORRETAS.
A
II, III, IV e V, apenas.
B
I, II, IV e V, apenas.
C
I, II e III, apenas.
D
I, II e V, apenas. 
E
I, II, III, IV e V.