Questão
Universidade de Pernambuco - UPE
2010
Fase Única
TEXTO-BEufemismo51425c70833
TEXTO B

Eufemismo e classe social

Entende-se por eufemismo a figura de linguagem que atenua a dureza de alguma afirmação. Por isso, muitos a chamam de “a linguagem dos educados”, uma vez que, em geral, se constitui falta de educação e de sensibilidade o emprego de determinados vocábulos que certamente causarão dissabores aos envolvidos num processo de comunicação, em determinadas circunstâncias.

Contudo, se refletirmos sobre nossa atual realidade, perceberemos que tal figura de linguagem tem sido constantemente utilizada para fazer uma preconceituosa separação entre classes sociais deste país repleto de desigualdades.

Abro parênteses apenas para comentar que preconceitos na língua portuguesa existem e precisam ser combatidos. Um bom exemplo de preconceito social refletido na forma de falar é o do personagem Chico Bento, de Maurício de Sousa. A este personagem são atribuídos valores de linguagem diferentes, se os compararmos aos dos demais personagens, apenas por ele retratar uma criança que mora no interior.

Não é difícil constatar preconceitos sociais através do emprego vocabular de muitas pessoas. Ora, por que os veículos de comunicação em geral usam expressões diferenciadas para referir-se, por exemplo, ao ato de roubar? Não há como discordar que as expressões “roubo” e “desvio de verbas” têm, praticamente, o mesmo valor semântico, mas causam impactos totalmente diferentes.

Se nos questionarmos sobre o porquê da diferença vocabular no tratamento de pessoas com escolaridades ou contas bancárias menores às de outros, identificaremos eufemismos utilizados de maneira a evidenciar muitos preconceitos de ordem social. Através de um olhar mais atento a “detalhes” assim, percebe-se que o eufemismo não é usado apenas por pessoas educadas mas também por pessoas que alimentam preconceitos sociais, infelizmente.

Identificar tais preconceitos abre caminho para discussões e reflexões construtivas sobre as concepções subjacentes à forma como rotulamos as pessoas e as distribuímos em grupos e classes sociais diferentes. A prática do respeito indiscriminado supõe a superação de preconceitos que os eufemismos estrategicamente escondem.

http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=1495, com adaptações).

No Texto A, o autor usa a expressão “os menos favorecidos” para se referir à população pobre do país. De acordo com o Texto B, essa escolha vocabular dá oportunidade a que façamos as seguintes considerações:

I. A visão discriminatória de algumas pessoas pode estar refletida na escolha lexical de seu discurso. Embora funcionem como “atenuadores”, certas expressões manifestam concepções preconceituosas veladas.

II. A linguagem usada por crianças do interior rural – conforme a teoria da variação linguística – revela que nenhuma manifestação linguística é, intrinsecamente, melhor que outra. A uniformidade das línguas é hoje um mito em dissolução.

III. A ideia de que o “eufemismo é um recurso que atenua a dureza de alguma afirmação” está contida desde a morfologia da palavra: o prefixo ‘eu’ remete para esse aspecto. Tal prefixo também está presente na palavra ‘eufonia’.

IV. O texto B sugere que existem “normas de um bom comportamento linguístico”, pelo que certas expressões devem ser socialmente evitadas, embora a intenção maior do texto seja a de demonstrar o viés discriminatório embutido nesse “bom comportamento”.

V. Se a língua fosse usada com inteira correção gramatical, não teríamos manifestações linguísticas preconceituosas, pois a norma-padrão assegura uma interação verbal socialmente relevante e respeitosa.

São aceitáveis apenas as considerações feitas nas alternativas:
A
I e II.
B
I e III.
C
I, II, III e IV.
D
II e V.
E
III, IV e V.