TEXTO II
[...]
PALHAÇO Oi, eu vou ali e volto já. ATORES (saindo) Oi, cabeça de bode não tem que chupar.
JOÃO GRILO Sacristão, a vaca da mulher do padeiro tem que sair!
SACRISTÃO
Um momento. Um momento. Em primeiro lugar, o cuidado da casa de Deus e de seus arredores. Que é isso? Que é isso?
(Ele domina toda a cena, inclusive o Padre que tem uma confiança enorme na empáfia, segurança e hipocrisia do secretário.)
MULHER E PADEIRO (ao mesmo tempo, em resposta à pergunta do Sacristão) É o padre... SACRISTÃO (afastando os dois com a mão e olhando para a direita) Que é aquilo? Que é aquilo? (Sua afetação de espanto é tão grande, que todos se voltam pra direção em que ele olha.)
Fonte: SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 36. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TEXTO II
Encourado
Arrogância e falta de humildade no desempenho de suas funções: esse bispo, falando com um pequeno, tinha um orgulho só comparável à subserviência que usava para tratar com os grandes. Isto sem se falar no fato de que vivia com um santo homem, tratando-o sempre com o maior desprezo.
Fonte: SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 36. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TEXTO III
BISPO
Vamos deixar de brincadeiras! O senhor sabe perfeitamente a que estou me referindo. Por que chamou a mulher dele de cachorra?
PADRE Não chamei, Senhor Bispo!
BISPO Chamou, Padre João!
PADRE Não chamei, Senhor Bispo!
BISPO (elevando a voz) Chamou, Padre João!
PADRE resignado Chamei, Senhor Bispo!
BISPO Afinal, chamou ou não chamou?
PADRE Não chamei, mas se Vossa Reverendíssima diz que eu chamei é porque sabe mais do que eu!
Fonte: SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 36. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
No texto, o tratamento cerimonioso empregado pelo Padre, ao se referir ao Bispo, muda de Senhor para Vossa Reverendissima. Essa mudança ocorre em função de uma relação hierárquica de poder que, no contexto,