TEXTO I
QUEIXA-SE O POETA EM QUE O MUNDO VAI
ERRADO, E QUERENDO EMENDÁ-LO O TEM
POR EMPRESA DIFICULTOSA
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo o mar de enganos,
Ser louco c'os demais, que ser sisudo.
(MATOS, Gregório de. Os homens bons: A musa
praguejadora. In: Obras completas de Gregório de Matos
(Crônica do viver baiano seiscentista). Salvador: Janaína,
1968. 7 vols. p. 442, v. II. Ortografia atualizada.)
TEXTO II
RENÚNCIA
Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e d’alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
Teresópolis, 1906
(BANDEIRA, Manuel. A cinza das horas. In: _______.
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1993. p. 151.)
Os quartetos de Gregório de Matos propõem um problema e uma solução. Explicite-os sem copiar do texto.