TEXTO I
Todos nós temos noção do que é o jeitinho brasileiro e podemos identificá-lo em diversas situações cotidianas. Mas é importante entender também o que os estudiosos têm a dizer sobre ele. Dois exemplos são os antropólogos Lívia Barbosa e Roberto DaMatta, que definem o jeito como algo relativo, que pode ser visto tanto como algo bom quanto ruim
No livro “O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros”, Livia Barbosa mostra a ambiguidade do conceito:
“ […] o jeitinho é sempre uma forma ‘especial’ de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto, para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la, é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do ‘problema’.”
Neste mesmo livro, Barbosa traz outro ponto interessante. O jeitinho brasileiro pode ser visto tanto como um favor, quanto como uma forma de corrupção. Segundo a autora, ele estaria localizado entre esses dois polos, onde o primeiro é positivo e o outro é negativo, podendo pender mais para um lado ou para o outro. O que caracterizaria o jeito como algo positivo ou negativo depende da situação em que ele ocorre e a relação que existe entre as pessoas envolvidas.
Digamos, por exemplo, que você pediu para que uma pessoa fizesse um favor para você. Até aí não vemos nenhum problema. Podemos pensar que essa pessoa é sua amiga, tornando a situação mais comum ainda. Mas vamos supor que esse seu amigo seja um funcionário do DETRAN e você irá perder sua CNH por dirigir em alta velocidade. Ou seja, o que era um simples favor começa a se caracterizar como algo ilegal. Isso demonstra os dois pontos: como o favor começa a pender para o polo negativo, a depender da situação, e como a relação entre os indivíduos envolvidos é um fator que contribui para o jeitinho. Barbosa explica:
“Um outro aspecto que singulariza o jeito do favor é o grau de conhecimento entre as pessoas envolvidas na situação. Enquanto eu posso pedir um jeito a um desconhecido, favor não se pede a qualquer um. […] existe a ideia de que determinados assuntos e situações requerem confiança por parte de quem pede e, portanto, é necessário conhecer com quem se está tratando.”
Em “Dando um jeito no jeitinho”, Lourenço Stelio Rega traz uma ampla variedade de visões. O autor mostra como são extensas as concepções sobre o conceito, que representam o “jeitinho” desde algo positivo – que retrata a flexibilidade e criatividade do brasileiro em resolver situações – até como uma filosofia de “tentar levar vantagem em tudo”, uma forma de corrupção – nesse caso caracterizando-se como algo negativo.
TEXTO II
Durante os anos 1930 e a Segunda Guerra Mundial houve o que foi chamado “Política de Boa Vizinhança” dos Estados Unidos, com a intenção de estreitar os laços com os outros países da América latina. O resultado foi de trocas comerciais e culturais – com o prevalecimento da influência dos EUA. Para contribuir nessa aproximação cultural Walt Disney foi contratado para criar filmes animados nos quais os seus personagens norte-americanos interagiam com os latino-americanos. No Brasil, ele e sua equipe fizeram escala em Belém e depois visitaram o Rio de Janeiro, chegando até mesmo a conhecer o presidente Getúlio Vargas.
Dos estudos artísticos que fizeram pela América latina, resultaram os filmes “Alô, Amigos” (1942), que marca a estreia de Zé Carioca, e “Você já foi à Bahia?” (1944). O estereótipo do Brasil dessas animações é o do país rural, coberto de vida selvagem e natureza exuberante, o que o tornava interessante para o gosto pelo exótico, muito difundido nas grandes potências. Quanto ao personagem, no primeiro filme Zé é apenas um papagaio divertido e caloroso que leva Donald para tomar cachaça e dançar samba no Rio de Janeiro. Nas devidas proporções, ele era um personagem tão inocente quanto qualquer outro do estúdio.
A mudança veio nas tiras em quadrinhos publicadas em jornal americano semanalmente, de 1942 a 1944. Desde sua primeira tira o personagem brasileiro tem sua índole distorcida: ele vai a um restaurante caro pensando em como fazer para não pagar a conta. A partir daí, só malandragem. Sempre tentando obter vantagens, mente descaradamente todo o tempo. Mesmo morando em um barraco no lixão, passa-se por rico, principalmente quando o objetivo é dar em cima de alguma mulher (ou passarinha, se preferir). E a cada mulher que conhece é uma nova obsessão. Os 2 anos de tiras de jornal apoiam-se em enrascadas criadas pelo próprio Zé com suas mentiras, sempre atrás de algum negócio fácil e lucrativo e de um rabo-de-saia, precisando criar novas mentiras para safar-se com as penas intactas.
Adaptado de <https://sonhosdespertos.wordpress.com/2012/12/08/ze-carioca-e-o-estereotipodo-brasil/> Acesso em 03 mar. 2020.
Pouca gente sabe, mas a primeira caminhada lunar quase terminou mal. Ao retornar ao módulo, Buzz Aldrin, o segundo astronauta a pisar na Lua, notou que um disjuntor essencial para a decolagem na saída do satélite havia caído. Um interruptor estava quebrado, e eles precisariam dar uma de eletricista para voltar à Terra.
Enquanto os controladores na Terra buscavam uma solução remotamente, Aldrin e Neil Armostrong começaram a vasculhar o módulo lunar em busca de algo que pudesse resolver o problema. Buzz pensou, então, que se enganchasse uma ponta de caneta sem tinta ao interruptor quebrado, conseguiria fazer os conectores se tocarem. E, assim, eles conseguiram retornar para casa.
Adaptado de <https://canaltech.com.br/espaco/gambiarra-espacial-sete-momentos-em-que-o-improviso-salvou-vidas-156769/> Acesso em 03 mar. 2020.
Avalie as seguintes informações acerca dos textos I, II e III
i. Em todos os textos, pode-se perceber uma visão ambígua do chamado “jeitinho brasileiro” descrito no texto I.
ii. Os textos II e III apontam, respectivamente, aspectos negativos e positivos da necessidade de encontrar soluções para problemas.
iii. O texto III aponta que nem sempre soluções para adversidades estão na ilegalidade, ainda que sejam imprevistas.
iv. O texto II aponta que o “jeitinho brasileiro” não é exclusividade dos nativos brasileiros, já que a personagem Zé Carioca é americana.
As informações corretas são