Quando Ismália enlouqueceu,

     Pôs-se na torre a sonhar...

     Viu uma lua no céu,

     Viu outra lua no mar.

5  No sonho que se perdeu,

     Banhou-se toda em luar...

     Queria subir ao céu,

     Queria descer ao mar...

     E, no desvario seu,

10 Na torre pôs-se a cantar...

     Estava perto do céu,

     Estava longe do mar...

     E como um anjo pendeu

     As asas para voar...

15 Queria a lua do céu,

     Queria a lua do mar...

     As asas que Deus lhe deu

     Ruflaram de par em par...

     Sua alma subiu ao céu,

     20 Seu corpo desceu ao mar...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Pastoral aos crentes do amor e da morte. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977. p. 313-314.

Sobre o conteúdo do poema e o estilo do autor, há uma asserção correta em

I. Desvario, morte, corpo e espírito são temas que caracterizam o antimaterialismo e o antirracionalismo do Simbolismo, estilo de época no qual o autor do poema se destaca.

II. No poema, está explícito um contraste entre o impulso inconsciente que atrai a personagem para a morte e o desejo consciente e racional de preservação da vida a qualquer preço.

III. No poema, a loucura de Ismália a faz delirar, oscilando entre dois desejos inconciliáveis ou duas escolhas antitéticas, o que é solucionado através da morte, com a separação entre corpo e espírito.

IV. Diferentemente dos poetas parnasianos, o autor do texto opta por um estilo no qual se destaca o rigor formal do verso e o caráter racional da temática abordada, o que o inclui entre os poetas do Arcadismo.

V. O poema apresenta, através de imagens simbólicas sugestivas e antitéticas — “torre”, “lua”, “céu”, “mar”, “noite”, “anjo” —, o processo de desorientação mental de que resulta o suicídio da personagem que o intitula.

A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a