TEXTO 1
Claricevidência
Otto Lara Resende
Rio de Janeiro – Quando esteve no Brasil, John Updike demonstrou interesse por Clarice Lispector. Dela só leu um livro, e traduzido. Mas sua curiosidade não foi simples cortesia. Longe de testemunhas, pediu detalhes sobre a vida de Clarice e fontes sobre a sua obra. Perguntou se não há uma biografia de Clarice. Há o livro de Olga Borelli. Esboço de um possível retrato, como está no subtítulo.
Aos poucos, Clarice vai sendo conhecida e reconhecida. Não me interessa o número de leitores, mas a sua qualidade, disse ela. No Brasil ou lá fora, para aceitá-la e amá-la, é indispensável um forte grau de sintonia. Uma confraternidade. O segredo de seu texto está numa nota pessoal que tem de bater com a emoção do leitor. Coincidir, respirar junto no que pode ser uma claricevidência.
Personalíssima na dicção brasileira, a universalidade de sua obra vai ampliando o clube de seus devotos. (...)
Quem sabe das dificuldades que Clarice enfrentou vê com alegria o reconhecimento que seu nome alcança aqui e no exterior. Seu livro de estreia foi recusado por mais de uma editora, com o parecer contrário dos críticos. Mesmo depois de famosa, não lhe faltaram obstáculos. Sua colaboração na imprensa sofreu contestação, ou teve acolhida abaixo do que merecia. “Talvez nem escrevesse em jornal, se não tivesse necessidade”, disse ela. Sete anos depois de sua morte, em 1984 o que publicou na imprensa foi reunido num volumoso livro – “A Descoberta do Mundo”.
Numa bonita edição de 652 páginas, “Discovering the World” saiu agora na Inglaterra. Tradução de Giovanni Pontiero, a quem dei uma ajudinha por indicação de Lya Luft. Pontiero traduziu antes “The Hour of the Star”. Generoso, o tradutor menciona o meu nome nos “Acknowledgments”. Em compensação, na recente edição brasileira de “Legião Estrangeira”, fui expulso do “Fundo de Gaveta”, título que Clarice, na 1ª edição, de 1964, atribuiu a uma sugestão do “nunca assaz citado” OLR. Pouco importa. O que importa é que o mundo vai descobrindo Clarice Lispector.
RESENDE, Otto Lara. Claricevidência. Folha de São Paulo, 27/03/1992. Disponível em: <https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/6218/claricevidencia> Acesso em 26 mar. 2020
Clarice Lispector é uma importante escritora da literatura brasileira, principalmente, por sua prosa intimista, introspectiva. Considerando a autora e seu contexto histórico, atente para as seguintes informações:
I. As obras de Clarice Lispector são caracterizadas por dramas existenciais, interpretando elementos do cotidiano de maneira filosófica.
II. Clarice Lispector, junto com Lygia Fagundes Telles, fazem parte da 2ª Geração Modernista, também conhecida como Modernismo de 30.
III. Quanto à forma da escrita, sua prosa é marcada pela presença constante dos fluxos de pensamento das personagens.
Está correto o que se afirma em