Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
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E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Outras afirmativas se fazem a respeito do poema:
1. Na primeira estrofe, não há rimas, pois não se pode caracterizar como tal a repetição de palavras.
2. Na segunda estrofe, observa-se que a palavra “toldos” faz parte de uma rima toante, enquanto “armação” e “balão” constituem a rima perfeita do poema e, por isso mesmo, classificam-se como rima consoante.
3. A supressão de palavras na estrofe inicial justifica-se como uma forma de reprodução do canto dos galos: antes de cessar o canto de um, já o canto de outro dá prosseguimento ao som.
4. Uma aliteração, formada pela constância de duas consoantes sonoras (“t” e “d”), é a base rítmica da segunda estrofe.
Estão corretas: