Questão
Universidade Federal Fluminense - UFF
2009
1ª Fase
Tempo-Tempo137049ca875
O Tempo do Tempo / Envelhecimento

Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor a sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Gregório de Matos. Obra Poética.

Texto VIII

QUALQUER TEMPO

Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.

Carlos Drummond de Andrade. Boitempo & A falta que ama.

No verso “Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”, pode-se perceber:
A
o emprego da citação, pela apropriação da expressão bíblica “do pó viemos e ao pó voltaremos”, com o fim de ressaltar a permanência da beleza de Maria em oposição ao pó passageiro.
B
o uso da metáfora, através do emprego dos substantivos “terra”, “cinza”, “pó”, que simbolizam elementos do cemitério, culminando com o pronome “nada”, que se refere à ausência de sentimentos do poeta.
C
o uso da gradação, pela disposição de vocábulos em seqüência, na qual se nota uma direção de sentido, enfatizando a transformação que o tempo opera na beleza.
D
o emprego da enumeração, pela revisão de todas as maneiras, circunstâncias e partes da beleza de Maria, reforçando os aspectos positivos e permanentes desta beleza.
E
o emprego do contraste entre a beleza de Maria e a feiúra do cemitério, cheio de cinza, pó e sombra, que não servem para nada.