Texto 1
Barco sem rumo
Há muitos anos,
no fim da última guerra,
mais para o ano de 1945,
diziam os jornais de um navio fantasma
percorrendo os mares e procurando um porto.
Sua única identificação:
— drapejava no alto mastro uma bandeira branca.
Levava sua carga humana.
Salvados de guerra e de uma só raça.
Incerto e sem destino,
todos os portos se negaram a recebê-lo.
Acompanhando pelo noticiário do tempo
o drama daquele barco,
mentalmente e emocionalmente
eu arvorava em cada porto do meu País
uma bandeira de Paz
e escrevia em letras de diamantes:
Desce aqui.
Aceita esta bandeira que te acolhe fraterna e amiga.
Convive com o meu povo pobre.
Compreende e procura ser compreendido.
Come com ele o pão da fraternidade
e bebe a água pura da esperança.
Aguarda tempos novos para todos.
Não subestimes nossa ignorância e pobreza.
Aceita com humildade o que te oferecemos:
terra generosa e trabalho fácil.
Reparte com quem te recebe
teu saber milenar,
Judeu, meu irmão.
Coralina, Cora. Meu livro de cordel! 18º ed.- São Paulo: Global 2013, pp. 45 e 46
( ) Da leitura do texto, infere-se que o poema de Cora Coralina é atemporal, pois ao mesmo tempo que referencia a guerra de 1945, também faz alusão aos homens que se deparam com o seu mundo desaparecendo, uma vez que veem suas terras sendo perdidas ainda hoje.
( ) A leitura do poema leva o leitor a inferir que o verso “Incerto e sem destino” é a representação de um espaço, para além da geografia, por meio do desenvolvimento dos signos linguísticos que deslocam o sentido real para outras formas metafóricas que fazem referência à memória.
( ) A poetisa Cora Coralina busca retratar, em suas temáticas, histórias do seu tempo, reminiscências de seu lugar, a partir de um local e de personagens também periféricos.
( ) Da leitura do poema, infere- se que a apresentação de uma linguagem simples, desvela um eu lírico que relembra o passado, como forma de mostrar ao leitor a sua rota, o seu
caminho.
( ) A produção literária de Cora Coralina apresenta linguagem, aparentemente, simples, informal, porém harmoniosa, buscando retratar, no seu fazer poético, a forma coloquial da narração de histórias do povo, em uma tentativa de resgatar do conto popular informações, às vezes, em forma de prosa, de poesia ou uma mescla, resultando em prosa poética.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.