Texto 1
“[...] a ‘identidade’ só nos é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço, ‘um objetivo’; como uma coisa que ainda se precisa construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e então lutar por ela e protegê-la lutando ainda mais — mesmo que, para que essa luta seja vitoriosa, a verdade sobre a condição precária e eternamente inconclusa da identidade deva ser, e tenda a ser, suprimida e laboriosamente oculta.”
(Zygmunt Bauman, Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 22)
Texto 2
Há algum tempo, havia uma preocupação em relacionar a questão da identidade à nacionalidade do indivíduo. Era importante impor um laço de pertencimento ao território onde o sujeito se encontrava. Para este não havia necessidade, pois sabia que pertencia àquele lugar, ali estavam suas origens e suas relações sociais que eram concentradas no domínio da proximidade. Não havia dúvidas quanto à veracidade de sua nacionalidade.
Mas, com o nascimento do Estado moderno, surgem mudanças e o indivíduo, que antes mantinha uma relação de proximidade, começa a ser deslocado daquele lugar ao qual pertencia. Um bom exemplo das transformações ocorridas está na revolução dos transportes, que propiciaram uma rápida expansão dos territórios. Dessa forma, com o desenvolvimento das regiões e a consequente legitimação da nação, o problema da identidade seria visto de forma positiva e as pessoas assim admitiriam sua nacionalidade/identidade.
Nesse sentido, podemos observar que, desde o início, a identidade nacional foi vista como um marco da soberania do Estado. Por muitas vezes, para se mantê-la, mesmo que incompleta, fazia-se um esforço gigantesco e usava-se uma pequena dose de força para que a nacionalidade fosse protegida. Vale salientar que as identidades consideradas “menores” só seriam aceitas se não violassem a lealdade nacional, pois o Estado detinha o poder e nada poderia estremecê-lo. Atualmente, podemos perceber que muitas foram as mudanças ocorridas. As preocupações contemporâneas transcenderam a simples (se podemos assim dizer) questão da identidade nacional. Na sociedade pós-moderna, temos assistido a uma profusão de transformações, principalmente no campo das relações interpessoais, fazendo com que haja mudanças no comportamento dos sujeitos.
Segundo Bauman (2005), a “identificação” se torna cada vez mais importante para os indivíduos que buscam desesperadamente um “nós” a que possam pedir acesso. As “novas” relações começam a interferir em nossas construções cotidianas, nossas práticas sociais, como forma de entendimento do mundo. Com isso, as identidades, antes consideradas seguras e estáveis, começam a fragmentar-se. Tudo o que somos e pensamos advém de nosso contato com o mundo. Nesse sentido, um “eu” verdadeiro, um sujeito singular não é possível no contexto da pós- modernidade, pois seria determinado por uma série de situações, seria um simulacro de um sujeito real. Hall (2005) aponta que as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram a vida social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado. Não há mais uma identidade una, centralizada, mas um sujeito plural, heterogêneo. Dessa forma, ao refletirmos sobre a questão do sujeito na era da globalização, vislumbramos carências, dúvidas e urgências, presentes nesse indivíduo, perdido em suas inseguranças, com a necessidade emergencial de pertencer a algum lugar. Será esse um colapso do sujeito moderno? Uma crise de identidade? Como observa Mercer, “a identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza”.
(Sheila da Silva Monte. A IDENTIDADE DO SUJEITO NA PÓS-MODERNIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES. ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 6, Volume 12/jul-dez de 2012.)
Uma das eternas discussões na maior parte das ciências humanas é, sem dúvida, a ideia de que temos uma identidade própria, uma identidade coletiva e uma identidade esperada. Diante de uma sociedade polarizada como a nossa, em que o pensamento ideológico é essencial, como podemos perceber a identidade dos grupos? De que maneira a minha formação identitária influencia no que vejo e interpreto relacionado aos outros? Como deveríamos nos comportar nos processos de aceitação da alteridade?