Texto 1
O que seria a cultura da lacração? Lacrar é dar a última palavra com sucesso, é vencer o duelo. Nesse sentido, a lacração se presta a encerrar um debate que, para sermos rigorosos, nem mesmo começou. Lacrar é uma performance, portanto se trata de uma atitude que está a serviço dos aplausos e dos likes, o que, no mundo digital, significa visibilidade e relevância, patrocínio e continuidade. No contexto digital, a cultura da lacração tornou-se um modo mais geral de se relacionar. Cada vez mais a convivência respeitosa com as diferenças dá lugar às respostas extremadas.
Na lacração, não há caminho do meio ou a possibilidade de dialogar, não há nuance ou construção argumentativa, pois argumentar, ponderar e produzir uma interlocução múltipla demanda tempo e preparo, criação de um vasto repertório intelectual e, sobretudo, interesse de entender como operam as construções narrativas em suas diferentes abordagens. A lacração, como performance do instante, não tem tempo a perder. Ela deve manter-se atenta à próxima sacada, àquilo que se chamava, em tempos passados, de próximo “furo de reportagem”.
Para se construir uma cultura do pensamento crítico e criador, é necessário superar a cultura da lacração. O pensamento, de modo oposto à cultura performática do lacre, é o lugar da dúvida. Não haverá pensamento em solo povoado por certezas, por sede de aplausos e amor ao poder.
(Marta Picchioni. “É preciso superar a cultura da lacração”. https://comumapdz.com.br, 24.07.2020. Adaptado.)
Texto 2
Em pleno século XXI, na era das minorias sociais e das redes sociais, o silêncio diante do preconceito e das estruturas excludentes não existe mais, porque a internet deu voz a todas as pessoas. On-line, encontramos quem não aguenta mais viver um mundo que tenta ser padronizado e denuncia, para fazer com que todos possam enxergar como minorias são constantemente deixadas de lado. Esse é o significado da palavra “lacrar”.
“Quem não lacra não lucra”. A busca por uma sociedade não padronizada, não manipuladora e coerente incomoda. Ninguém quer que se mexa nas suas obras preferidas, nos seus entretenimentos, nos seus privilégios. Por isso, apontar questões, por meio da lacração, como a falta de negros em seleções de empregos ou o sexismo e a homofobia nos esportes, é uma ofensa para alguns. É impressionante como muitos clamam por mudança, mas não entendem que, para isso acontecer, os alicerces precisam mudar. “Quem não lacra não muda”.
Viver em uma sociedade em que não se lacra é voltar no tempo. Há quem se incomode pela briga por direitos iguais, mas imaginar que vozes se calem depois de tantas vitórias sociais é inadmissível. Deve-se usar essas vozes, então, em prol de uma sociedade mais plural. Dessa forma, lacrar será “sair-se bem, obter sucesso, arrasar”.
(Andersonshon. “Falar sobre lacração é lacração?”. https://andersonshon.com, 28.02.2021. Adaptado.)
Texto 3
A tarefa de construir o bem comum necessita de diálogo. Dialogar qualifica a capacidade humana de se dirigir ao outro, nas diferenças e nos parâmetros racionais das oposições. O diálogo permite também estabelecer uma relação com a lucidez de discernimentos e escolhas. Trata-se de uma prática que não oferece espaço para o ódio, vinganças e o aproveitamento ilegítimo de oportunidades para obter ganhos na contramão do bem comum.
Somente pela via do diálogo os muitos segmentos da sociedade construirão o tecido de uma cultura que sustente princípios e legalidades. As guerras, os acirramentos partidários, o aumento da violência, os fundamentalismos — religiosos e políticos —, as inimizades, as crises familiares, tudo advém de incompetências humanas na essencial capacidade para dialogar. Quando falta a indispensável competência da reciprocidade conquistada pelo diálogo, as consequências são sempre desastrosas. Só o diálogo constrói entendimentos que levam à compreensão das mudanças e transformações tão velozes neste tempo.
(“A importância do diálogo para o desenvolvimento do ser humano”. www.atribunamt.com.br, 15.05.2016. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Convívio entre as pessoas na internet: entre a necessidade de lacrar e a de dialogar