Texto 1
A um poeta
1 Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre e sua!
2 Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
3 Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
4 Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, Olavo. In BARBOSA, Frederico. Clássicos da poesia brasileira. Rio de Janeiro: O Globo/Klick Editora, 1997, p.155-6.
Texto 2
Nos bailes da vida
1 Foi nos bailes da vida ou num bar
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir
Foi assim
2 Cantar era buscar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era
Para cantar nada era longe tudo tão bom
Até a estrada de terra na boleia de caminhão
Era assim
3 Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se for assim, assim será
Cantando me desfaço, não me canso
De viver nem de cantar
NASCIMENTO, Milton e BRANT, Fernando. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/ milton-nascimento/nos-bailes-da-vida.html. Acesso em: 15 ago. 2021.
A figura de linguagem predominante nos versos “Com a roupa encharcada e a alma/Repleta de chão” (Texto 2) é a