Texto 1
Em uma passagem do livro O que é o tempo?, o matemático e filósofo inglês Gerald James Whitrow nos diz o seguinte:
A primeira questão é a origem da ideia de que o tempo é uma espécie de progressão linear medida pelo relógio e pelo calendário. Na civilização moderna, esse conceito de tempo domina de tal forma a nossa vida que parece ser uma necessidade inevitável do pensamento. Mas isso está longe de ser verdade. (...) A maioria das civilizações anteriores à nossa, nos últimos 200 a 300 anos, tendia a considerar o tempo essencialmente cíclico na natureza. À luz da história, nossa concepção de tempo é tão excepcional quanto a nossa rejeição ao mágico.
Embora nossa ideia de tempo seja uma das características peculiares do mundo moderno, a importância que damos a ele não é inteiramente desprovida de precedente cultural. Nem tampouco o presente calendário gregoriano – assim chamado em homenagem ao papa Gregório XIII, que o introduziu em março de 1582 – é o mais preciso de todas as civilizações. Nosso calendário, por muito sofisticado que seja, não é tão exato quanto aquele criado, há mais de mil anos, pelos sacerdotes maias da América Central. O ano gregoriano é um tanto longo demais, e o erro chega a três dias em dez mil anos. A duração do ano dos astrônomos maias pecava por ser um tanto curta demais, mas o erro era de apenas dois dias em dez mil anos.
De todos os povos que conhecemos, os maias eram os mais obcecados pela idéia de tempo. Enquanto na Antiguidade européia considerava-se que os dias da semana eram influenciados pelos principais corpos celestes – Saturn-day, Sun-day, Moon-day (dia de Saturno, dia do Sol, dia da Lua e assim por diante) –, para os maias cada dia era por si só divino. Todos os monumentos e altares eram erigidos para marcar a passagem do tempo, nenhum glorificava governantes ou conquistadores. Os maias viam as divisões do tempo como cargas transportadas por uma hierarquia de portadores divinos que personificavam os números pelos quais os vários períodos – dias, meses, anos, décadas e séculos – se distinguiam.
Apesar dessa constante preocupação com os fenômenos temporais e da incrível exatidão de seu calendário, os maias nunca chegaram à ideia de tempo como a jornada de um portador com a sua carga. Seu conceito de tempo era mágico e politeísta. Embora a estrada na qual os portadores divinos caminhassem em revezamento não tivesse começo nem fim, os eventos ocorriam em um círculo representado por períodos recorrentes de serviço a cada deus na sucessão dos portadores. Dias, meses, anos, e assim por diante, eram membros dos grupos que caminhavam em revezamento pela eternidade. A carga de cada deus era o presságio para o intervalo de tempo em questão. Num ano a carga podia ser a seca, no outro, uma boa colheita. Pelo cálculo dos deuses que estariam caminhando juntos em um determinado dia, os sacerdotes podiam determinar a influência combinada de todos os caminhantes, e assim prever o destino da humanidade.
A hierarquia dos ciclos de cada divisão de tempo levou os maias a dedicar mais atenção ao passado que ao futuro. Esperava-se que a história se repetisse em ciclos de 260 anos, e que os eventos significativos tendessem a seguir um padrão geral pré-ordenado. Por exemplo, a religião cristã introduzida pelos espanhóis era identificada com a adoração de um culto alienígena imposto aos maias vários séculos antes. Os eventos passados, presentes e futuros mesclavam-se, na visão global dos maias, porque resultavam da mesma carga divina do ciclo de 260 anos.
Extraído e adaptado de WHITROW, G. J. O que é o tempo? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p.15-17.
b) Retire do texto 1 um período que contrarie a seguinte afirmação: Nunca houve sociedade que tenha dado ao tempo um lugar tão central como a nossa.
c) Forme um único período com as orações abaixo, utilizando para isso o pronome relativo cujo. Faça as adaptações necessárias.
* Não vemos a relação entre passado, presente e futuro da mesma forma que os maias.
* O conceito de tempo dos maias era mágico e politeísta.