Questão
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS
2016
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Texto 1

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal , e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite:
Das brancas ovelhinhas tiro o leite;
E mais as finas lãs de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado:
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste.
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil pastora,
Depois que o teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil pastora, o teu agrado
Vale mais qu’um rebanho, e mais que um
trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Os teus olhos espalham a luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina
Te cobre as faces, que são cor da neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não fez o Céu, gentil pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.

Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo
/arrasta;

Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Texto 2

Tu não verás , Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho e a rica terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.

Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.

Não verás derrubarem os virgens matos.
Queimar as capoeiras inda novas,
Servir de adubo à terra a fértil cinza.
Lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotes
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.

Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grandes livros,
E decidir os pleitos.

Enquanto resolver os meus consultos,
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fastos da sábia, mestra história,
E os cantos da poesia.

Lerás em alta voz, a imagem bela;
Eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.

(Apud: Antologia dos Poetas Brasileiros – Poesia da Fase Colonial. Org. Walmyr Ayala. Rio de Janeiro. Tecnoprint Gráfica S.A., 1967)

I – Pastoralismo e bucolismo são aspectos marcantes no texto 1, uma vez que nele se observa a convenção arcádica que leva o poeta a identificar-se artisticamente como pastor, além da consequente valorização da vida campestre e do entendimento de que a felicidade e a beleza daí decorrem.

II. – De modo geral, na poesia neoclássica, determinadas convenções impedem a apresentação do eu do autor. As referências à natureza, inclusive, servem como elementos de equilíbrio para a expressão lírica. Todavia, nos textos em estudo, sobretudo no número 1, o excessivo emprego da primeira pessoa revela um eu exacerbado, ou seja, uma subjetividade muita próxima daquela que caracteriza um texto pertencente ao Romantismo.

III. – Em ambos os textos, a pastora Marília é uma figura passiva, não tendo uma atuação concreta. No texto 2, inclusive, aparece distante do ambiente real, marcado pela rudeza do trabalho braçal, e colocada, como um mero ornamento, num ambiente familiar e burguês.
A
 I, II e III – corretos.
B
 I e II – corretos; III – incorreto.
C
 I – correto; II – incorreto: III- correto.
D
 I – incorreto: II – correto; III – incorreto.
E
 I – incorreto: II e III – corretos.