Texto 1
INFÂNCIA
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
Comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
A ninar nos longes da senzala – e nunca se
[esqueceu
Chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
(ANDRADE, Carlos Drummond de – “Alguma Poesia”. Apud “Nova Reunião”, Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora José Olím- pio,1983. Pág. 4)
Texto 2
PROFUNDAMENTE
Quando ontem adormeci
na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas
No meio da noite despertei
No ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(BANDEIRA, Manuel – “Libertinagem”. Apud “Poesia Completa e Prosa” – Rio De Janeiro. Companhia José Aguilar Editora, 1967. Pág. 258)
Analise as seguintes afirmações sobre aspectos presentes nos textos em questão.
I) “Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. (texto 1)
- O emprego dos tempos verbais assinalados (predominantes nesse poema) denota ações concluídas no passado e que tiveram certa duração.
II) “No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu...” (texto l); “Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo...” (texto 2)
- Percebe-se, pelas palavras destacadas, que os autores empregaram o mesmo recurso de estilo: a metonímia (nos exemplos, podendo também ser chamado de sinédoque).
III) “Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.”
- A figura de pensamento que está presente nestes versos também se verifica nas seguintes ocorrências: “O sobrinho do tzar, porém, não era dado ao trabalho e Tia Zulmira foi obrigada a deixá-lo...” (Stanislaw Ponte Preta) / “E fizeste isto durante vinte e três anos(...) até que um dia deste o grande mergulho nas trevas(...)” (Machado de Assis)
IV) ‘Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras...” (texto 1)
- Verifica-se que, no quarto verso acima, deu-se a quebra do paralelismo sintático existente os sujeitos das orações.
V) “Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.” (texto 1)
A forma verbal assinalada nesse verso se manterá inalterada em todas as lacunas dos períodos seguintes: Éramos nós quem ______a cavalo. / Mais de um fazendeiro ______a cavalo. / Qual de vós ________a cavalo? / Meu pai, assim como seus camaradas, ______a cavalo. / Apenas um quarto dos peões _______a cavalo.