Questão
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
2018
2ª Fase
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Discursiva
Texto 1



Imagens de Bento Rodrigues (Mariana – MG) feitas durante a visita dos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp em 2016.

Em 5 de novembro de 2015, rompeu-se em Mariana uma barragem de rejeitos da extração de minério de ferro, localizada a montante na acidentada topografia do centro do Estado de Minas Gerais. Isso causou uma inundação de lama que afetou vários municípios e seus ecossistemas, contaminando a bacia hidrográfica do Rio Doce e parte da costa brasileira.

Considerado o maior desastre ambiental no Brasil, o acidente deixou um rastro de problemas que atingem praticamente todas as áreas de planejamento do país: cidades foram devastadas em questões de horas, mananciais foram inutilizados, danos ecológicos que podem perdurar por anos e se estendem por quilômetros desde Minas Gerais até o litoral do Espírito Santo.

Em artigo publicado em El País de 7/11/2016, intitulado “Construir Bento Rodrigues”, o Professor Dr. Rafael Urano Frajndlich* escreve:

“Bento Rodrigues está no mesmo lugar. As fotos publicadas após o rompimento da barragem mostram uma lama viscosa que se espalhou pelas ruas do distrito. Hoje essa mesma lama secou e ficou com um tom terracota, com que o vento e poeira se encarregaram de tingir os escombros das casas, unindo tudo numa mesma massa visual que contrasta com o verde escuro das montanhas em volta e com o límpido azul do céu mineiro.

Entre moradores, corporação e Estado, um consenso decanta pela discussão conjunta e pela falta de disposição para se contestá-lo: é impossível que os moradores voltem para aquela área. Entretanto, seis meses depois da tragédia, quando visitamos por quatro dias Mariana como parte de disciplinas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, não havia nada além desta resolução e de medidas gerais de contingência. Um ano depois, pouco ainda aparece como perspectiva para o futuro das cidades atingidas.

Na região de Mariana, esperávamos colher materiais para entender o processo de reparação do maior desastre ambiental da história do país. Entrevistamos moradores, visitamos o distrito de Bento Rodrigues e passamos na fazenda de Nova Lavoura, onde supostamente será construída a nova vila. Nosso objetivo era conceber exercícios de projeto com um intuito simples: projetar a Nova Bento Rodrigues e seu território como uma comunidade modelo de apropriação sustentável. Acreditamos que, se a lama deixou uma mácula de contaminação ao longo da Bacia do Rio Doce, as novas cidades terão de ser feitas como contraponto a uma história persistentemente predatória da região e de seus recursos.

Trata-se de um exercício estudantil básico: é preciso treinar futuros profissionais para enfrentar situações de emergência urbana, e seria rico cotejar nossas premissas com o mundo real. No entanto, encontramos um vazio quando chegamos a Mariana, a ponto de sentir que nossas ideias tinham um assustador sabor de pioneirismo. O projeto urbano para Bento Rodrigues não é um assunto discutido na mídia. São noticiadas as nuances da tragédia, suas consequências e o sem-fim de imputações e recursos trocados entre empresa e Estado. Mesmo quando o terreno foi escolhido, nenhuma palavra foi dita sobre como vai ser esse novo local.”

Rafael Urano Frajndlich é professor de Fundamentos, Teoria e Projeto no curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. Organizou e acompanhou a visita dos alunos à região do desastre de Mariana com os também professores Evandro Ziggiatti Monteiro e Emilia Wanda Rutkwoski.

Texto 2

“O povoado de Bento Rodrigues, distrito de Mariana, Minas Gerais, foi o primeiro a ser atingido pelo rompimento da barragem de Fundão, às 15h30 do dia 5 de novembro de 2015. Quando a gigantesca estrutura se desmanchou, Paula Geralda Alves, moradora do lugar, preparava mudas de reflorestamento para a Samarco, numa fazenda vizinha. Ao ver a lava de minério descer acelerada em direção à vila, ela disse para seus colegas: ‘Não sei vocês, mas eu vou avisar o meu povo.’ Com a mão enterrada na buzina de sua moto, Alves percorreu algumas ruas de Bento Rodrigues, berrando: ‘Foge todo mundo, a barragem rompeu.’ Apavorados, os moradores saíram de suas casas deixando tudo para trás. Pouco antes das quatro da tarde, o lugarejo do século XVII, onde viviam 600 almas, deixou de existir. A gigantesca onda de rejeitos invadiu a vila, destruindo tudo. Restaram algumas poucas casas, construções que mal se mantinham de pé, cujos telhados, janelas e portas foram levados pela avalanche. Misturados ao barro, jaziam colchões e outros apetrechos comuns à rotina doméstica. Em seu relato para a revista Piauí, Cristiano Mascaro registrou: ‘Do alto de uma elevação, pudemos avistar o que sobrou do pequeno vilarejo. As fotografias de Canudos e a descrição de Euclides da Cunha logo me vieram à mente.’

Vista do alto, Bento Rodrigues é apenas um monte de entulho. Conforme a câmera se aproxima, brota, aos poucos, o interior das casas, com os objetos que compuseram as histórias de vida desbaratadas pela lama da Samarco: um sofá, uma antena de tevê, um filtro, uma caixa d’água. Os restos dos telhados pendentes indicam a força com que a onda de rejeitos entrou na vila. Do que foi uma janela, espiam-se os escombros da sala. A existência tão familiar desapareceu para sempre. Em uma parede enlameada, um morador deixou um registro dolorido: Bento Rodrigues, saudades.”

(“A Lama: de Mariana ao Mar.” Disponível em http://www.ims.com.br/ims/visite/exposicoes/a-lama -de-mariana-ao-mar-ims-pocos. Acessado em 08/09/2017).

Após a leitura do texto e análise das imagens apresentadas como suporte para a compreensão dos problemas ambientais enfrentados pela cidade de Bento Rodrigues, elabore o que se pede a seguir.

Questão 1

Elabore uma imagem que represente o povoado de Bento Rodrigues momentos antes da tragédia.

Questão 

Elabore uma imagem que represente o povoado de Bento Rodrigues momentos após a tragédia.

As imagens deverão ser feitas obrigatoriamente em preto e branco(P&B), na técnica grafite, dispostas na folha A3, que deverá ser posicionada verticalmente, com as duas imagens na mesma folha.