Questão
Universidade do Estado do Pará - UEPA
2011
Fase Única
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Texto 1

LUGAR DE CRIANÇA É NA INTERNET  

Douglas Adams, genial autor do Guia do Mochileiro das Galáxias, criou um provérbio sobre mudanças cuja tradução livre é assim: “Tudo o que já existia no mundo antes de nascermos é absolutamente normal; tudo o que surge enquanto somos jovens é uma oportunidade e, com sorte, pode até ser uma carreira a seguir; mas o que aparece depois dos 30 é anormal, o fim do mundo como conhecemos... até que tenha estado aí por uma década, quando começa a parecer normal”.  

Pois é. Com exceções que justificam a regra, somos conservadores. Só que o mundo muda o tempo todo e, desde sempre, cada vez mais rápido. Pense na internet. Parecia, no começo, máquinas a serviço da ciência e dos negócios, onde nós, usuários, fazíamos coisas sérias, como transações bancárias. Mas era muito mais. A rede tornou possível o relacionamento direto entre pessoas, com o lado de cá (nós) participando da construção dos instrumentos que usamos para, principalmente, interagir com outros humanos.  

E há quem nasceu “na” internet. Pesquisa da Nielsen diz que as crianças (2 a 11 anos de idade) estão na rede em peso. Enquanto o número total de usuários cresceu 10% entre 2004 e 2009, o de crianças subiu 19%. E o número de horas na rede, entre a garotada, cresceu 63% no período, de 7 horas por mês em 2004 para mais de 11 horas em 2009, contra um aumento do número de horas online, como um todo, de 36%.  

E isso quer dizer o quê? Primeiro, que as crianças estão usando a “rede” como parte essencial de suas redes, como extensão da escola, conexão com familiares distantes, diversão, e por aí vai. Segundo, quem nasce em rede vive em rede; é como aprender a ler: tirante raros casos, ninguém desaprende. No futuro, todo mundo estará em rede, em todo lugar, o tempo todo, para todas as coisas. Menos uma ou duas. Que justificarão a regra.  

Isso também quer dizer que pessoas “do séc. 19”, que passaram quase incólumes pelo séc. 20, vão achar que crianças na rede, no séc. 21, esse tempo todo (menos de uma hora por dia) é um absurdo. Capaz de haver uma correlação com quem achava que mulheres não deveriam votar, que voto, de resto, era só pra quem tinha posses e, por sinal, pra que ler e escrever, coisa de literatos e desocupados?  

O futuro das crianças – e dos adultos - é estar online, 24 horas por dia. Daqui para frente, se você existe, existe na rede, em tempo real e o tempo todo. Se você sabe de alguém que não está, torne se um missionário: traga essa alma perdida para nosso convívio, na rede. Antes que seja tarde. Demais.  

O futuro vem das crianças, das múltiplas formas como elas estão construindo, em rede, suas relações. E nós podemos – ainda - fazer parte dele. Pois a rede, pra todo mundo, começa parecer normal.  

(MEIRA, Sílvio In Revista Superinteressante. nº 269, setembro de 2009) 

De acordo com o Texto 1, é correto afirmar que um observador do século: 
A
19 era desocupado, já que apenas 19% teve convívio com os livros, percentual que era excessivo naquela sociedade entre as pessoas letradas, pois todos tiveram acesso aos meios escolares.  
 
B
19 acharia excessivamente redundante o uso da tecnologia de rede pelas crianças do século 20, em função de somente 36% que teve seu amadurecimento e de suas habilidades on-line.  
 
C
20 veria com certa preocupação o uso dos computadores em rede em função dos softweares do século 21 serem mais usados por pessoas com mais de 30 anos, já que estes estiveram em conexão com escolas, família, etc.  
 
D
19 relacionaria o uso de computadores em rede com o ato de votar e a necessidade de aprender a ler e a escrever como direitos de qualquer cidadão, homem ou mulher, em nossa sociedade atual.  
 
E
21 acharia um absurdo uma criança fazer parte de 63% do universo de quem pode ler e escrever apenas quando estivessem em rede com uma criança do século 20, em função da tecnologia de ponta ter chegado tarde demais.