Questão
Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
2009
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Texto 1

O Morcego 

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. 
Meu Deus! E este morcego! E. agora, vede: 
Na bruta ardência orgânica da sede, 
Morde-me goela ígneo e escaldante molho. 

“Vou mandar levantar outra parede...” 
Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho 
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual um olho. 
Circularmente sobre minha rede! 

Pego de um pau. Esforços faço. Chego  
A tocá-lo. Minh 'alma se concentra. 
Que ventre produziu tão feio parto?! 

A Consciência Humana é este morcego! 
Por mais que gente faça, à noite, ele entra 
Imperceptivelmente em nosso quarto! 

ANJOS, A. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar. 1994.                     

Texto 2 

O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica.

CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro: Cátedra, 1988 (adaptado). 

Em consonância com os comentários do texto II acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema O morcego apresenta-se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de

A
 reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia.
B
 expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro.
C
 representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial.
D
 abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano.
E
 conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na estrutura lírica da poesia.