Texto 1
Trechos da entrevista de Jacob Needleman à Revista Superinteressante, Editora Abril, julho de 2001.
Jacob Needleman
O filósofo americano diz que dinheiro não traz felicidade e explica como é possível viver sem dar tanta importância à conta bancária.
SUPER – Por que é tão difícil lidar com dinheiro?
NEEDLEMAN – O dinheiro reflete nossa imaginação, nossos desejos, necessidades e temores. Ele é nossa principal tecnologia social, por meio da qual vivemos hoje. Se somos sugestionáveis e vulneráveis ao que dizem e pensam os outros, o dinheiro espelhará tudo isso. A angústia que sentimos em relação ao dinheiro é reflexo da angústia que sentimos em relação a nós mesmos.
SUPER – Por que ele tem esse poder?
NEEDLEMAN – O dinheiro foi inventado para facilitar trocas entre as pessoas. O detalhe é que muitas coisas que não podiam ser medidas em termos monetários hoje têm preço. É o caso do cuidado com os filhos. As pessoas saem pra trabalhar e deixam os filhos com profissionais. Outros não têm tempo nem para a amizade e, quando querem falar dos problemas, têm de pagar um terapeuta. O dinheiro virou instrumento para aferir até nosso amor-próprio. Aqui nos Estados Unidos dizemos: “Quanto vale essa pessoa?” Há algum tempo, isso seria loucura. O dinheiro por si mesmo não proporciona felicidade. Ele dá prazer, alguma sensação de segurança. Mas, com o passar do tempo, percebe-se que ele não alimenta nossa alma. Temos de tratá-lo como um meio, não como um fim. Mas, para isso, temos de ter um fim, um objetivo. Só somos felizes quando a vida tem um significado. Transformar o dinheiro em nosso único objetivo é como comer comida com gosto de plástico.
SUPER – E por que tanta gente ainda acredita que o dinheiro traz felicidade?
NEEDLEMAN – As pessoas procuram algo que confira um significado a suas vidas. E muitas das coisas que antigamente se acreditava trazer felicidade perderam poder: religião, espiritualismo, filosofia ou mesmo arte. Todos precisamos de dinheiro, assim como de ar, de alimentos e convívio social. Sim, porque ninguém pode se mudar para uma floresta e viver sozinho. As forças da cultura são fortes demais. Não podemos simplesmente abandonar a sociedade, nem abrir mão do que temos, da tecnologia. [...]
SUPER – Qual a influência do dinheiro sobre as emoções?
NEEDLEMAN – Nossa cultura nos faz crer que coisas materiais podem nos fazer felizes, mas elas dão apenas um prazer superficial. Prazer é diversão, não perdura, é diferente de felicidade. Precisamos dessas coisas, mas a sociedade capitalista em que vivemos cria desejos para que haja sempre mais demanda. Pelos menos 75% dos produtos disponíveis hoje são dispensáveis.
a) Pressupostos são idéias que, embora não estejam expressas explicitamente no texto, podem ser percebidas pelo leitor a partir do emprego de certas palavras ou expressões. Compare os dois enunciados abaixo e indique o pressuposto marcado pela palavra “até” em (1).
(1) “O dinheiro virou instrumento para aferir até nosso amor-próprio.”
(2) O dinheiro virou instrumento para aferir nosso amor-próprio.
b) Além das conjunções condicionais, existem na língua outros recursos para expressar o valor semântico de condição. Transcreva, da segunda resposta do Texto 1, o período em que essa noção seja estabelecida por um desses outros recursos.
c) Utilizando apenas as palavras da frase abaixo, reescreva-a de forma que ela passe a apresentar uma idéia de negação. A verdade é que algum dinheiro traz felicidade.