Texto 4
No dia 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo escreveu em seu diário que ele queria levar alguns índios à Espanha para que aprendam a falar (“que deprendan hablar”). Cinco séculos depois, no dia 12 de outubro de 1989, em uma corte de justiça dos Estados Unidos, um índio mixteco foi considerado “retardado mental” (mentally retarded) porque não falava corretamente a língua castelhana. Ladislao Pastrana, mexicano de Oaxaca, trabalhador braçal ilegal nos campos da Califórnia, ia ser encerrado para o resto da vida em um asilo público. Pastrana não se entendia com a intérprete espanhola, e o psicólogo diagnosticou “um claro déficit intelectual”. Finalmente, os antropólogos esclareceram a situação: Pastrana expressava-se perfeitamente em sua língua, a língua mixteca, que é falada pelos índios herdeiros de uma alta cultura de mais de dois mil anos de antigüidade.
O Paraguai fala guarani. Um caso único na história universal: a língua dos índios, língua dos vencidos, é o idioma nacional unânime. E, no entanto, a maioria dos paraguaios opina, de acordo com as pesquisas, que os que não entendem espanhol “são como animais” .
De cada dois peruanos, um é índio, e a Constituição do Peru diz que o quéchua é um idioma tão oficial como o espanhol. A Constituição diz, mas a realidade não escuta. O Peru trata os índios como a África do Sul trata os negros. O espanhol é o único idioma ensinado nas escolas e o único entendido pelos juízes e policiais e funcionários. (O espanhol não é o único idioma da televisão, porque a televisão também fala inglês.)
Há cinco anos, os funcionários do Registro Civil de Buenos Aires negaram-se a registrar o nascimento de um menino. Os pais, indígenas da província de Jujuy, queriam que seu filho se chamasse Qori Wamancha, um nome de sua língua. O registro argentino não o aceitou “por tratar-se de nome estrangeiro”.
Os índios das Américas vivem exilados em sua própria terra. A linguagem não é um sinal de identidade, é a marca da maldição. Não os distingue: delata-os. Quando um índio renuncia à sua língua, começa a civilizar-se. Começa a civilizar-se ou começa a suicidar-se?
Quando eu era criança, nas escolas do Uruguai nos ensinavam que o país tinha se salvado do “problema indígena” graças aos generais que no século passado exterminaram os últimos charruas.
O problema indígena: os primeiros americanos, os verdadeiros descobridores da América, são “um problema”. E para que o problema deixe de ser um problema, é preciso que os índios deixem de ser índios. Apagá-los do mapa ou apagar-lhes a alma, aniquilá-los ou assimilá-los: o genocídio ou o outrocídio.
GALEANO, Eduardo. Ser como eles. Rio de Janeiro: Revan, 2000, pp 72-3.
a) Especifique a que se refere a expressão “este borrão” no verso 7 da primeira estrofe do poema de Castro Alves (texto 3).
b) No poema O Açúcar, Ferreira Gullar faz amplo uso de orações adjetivas, como ilustra especialmente a passagem entre os versos 22 e 27:
Em lugares distantes, onde não há hospital / nem escola, / homens que não sabem ler e morrem de fome / aos 27 anos / plantaram e colheram a cana / que viraria açúcar.
UMA das orações adjetivas destacadas pode ser substituída por um adjetivo de valor correspondente. Faça tal substituição.
c) Reescreva o período abaixo colocando o verbo considerar na voz ativa:
Cinco séculos depois, no dia 12 de outubro de 1989, em uma corte de justiça dos Estados Unidos, um índio mixteco foi considerado “retardado mental” porque não falava corretamente a língua castelhana.