Texto 8
A arquitetura da cana-de-açúcar
Os alpendres das casas-grandes
de par em par abertos, anchos,
cordiais como a hora do almoço,
apesar disso não são francos.
O aberto alpendre acolhedor
no casarão sem acolhimento
tira a expressão amiga, amável
do que é fora e não dentro:
dos lençóis de cana, tendidos,
postos ao sol até onde a vista,
e que lhe dão o sorriso aberto
que disfarça o que dentro é urtiga.
(João Cabral de Melo Neto)
Texto 9
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)
Texto 10
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor contar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus!
(Carlos Drummond de Andrade)
Considerando o poema de Manuel Bandeira, O bicho, analise as afirmativas a seguir:
I. Trata-se de um poema em que o lirismo amoroso é mais forte que a crítica social reveladora de uma situação humana execrável, dado que o homem vive momentos que o igualam, na linguagem do poeta e nos versos metrificados, aos animais irracionais.
II. Homem e animais distinguem-se nos versos em redondilha maior, de Manuel Bandeira, ao buscarem a subsistência no mesmo espaço físico. Esse fato demarca a degradação humana por meio de ações zoomórficas.
III. O Bicho é um título que conduz a temática da zoomorfização do homem, desenvolvida em cinco estrofes de versos decassílabos, em que o eu poético equipara o homem ao animal.
IV. Ao expressar que [...] “O bicho não era um cão”, / “Não era um gato”, / “Não era um rato” [...] e concluir que se tratava de um homem, o eu lírico evoca Deus, demonstrando surpresa por meio de orações que se relacionam à cadeia alimentar cão, gato, rato, cuja ruptura ocorre quando, no último verso, constata se tratar de um ser humano.
V. Composto por três tercetos e um monóstico, o poema de Manuel Bandeira revela uma crítica social intensa quando atribui ao homem faminto as mesmas atitudes inerentes ao animal que não consegue examinar o que está ingerindo, apenas engole.
Estão CORRETOS