Questão
Universidade do Estado do Pará - UEPA
2012
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
Texto-I-ConstrucaoAmou6193aca5433
Texto I - Construção

Amou daquela vez como se fosse a última /
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único /
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina / Ergueu no
patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico / Seus olhos
embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado /
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago / Dançou e
gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado /
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido / Agonizou
no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último /
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo /
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido /
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico /
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe /
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina / Dançou e
gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música / 
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido / Agonizou
no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina /Beijou sua
mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas / Sentou
pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe /
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir / Deus lhe
pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, /
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, / Deus
lhe pague.

(Chico Buarque)

Texto II – Podres Poderes




Observa-se, no Texto I, que o autor retrata:

I. A vida do trabalhador sendo banal, sofrida, sem rumo, sem motivação quando é relacionada ao sistema capitalista, é a negação social que os operários sofrem e que promove comportamentos de acordo com critérios e padrões impostos a eles.

II. O fim da ética cultural, pois os EUA passam a interferir na sociedade brasileira e mundial, impondo, de certa forma, seus ideais capitalistas, na tentativa de degradar ou controlar a classe operária por meio de condutas de intimidação e manipulação explícitas.

III. A vida de um cidadão trabalhador, não necessariamente da construção civil, que vive em função de sua força de trabalho: uma troca, na realidade, com os empresários, que deixam transparecer o poder de seu discurso dominante sobre o proletariado.

IV. A atual indiferença social quanto aos problemas alheios, configurada no momento em que o trabalhador cai da construção na rua e atrapalha o tráfego, assim como o menino, drogado ou não, que pede moedas nas esquinas das ruas.

V. O canteiro de obras como um lugar inseguro, pois sua infraestrutura é inadequada, igualmente às ruas de Belém, que não oferecem segurança à população, o que evidencia a discriminação do governo em relação aos operários em geral.

De acordo com as afirmativas acima, a alternativa correta é:
A
I, II e III
B
I, III e V
C
II, III e V
D
II, III e IV
E
I, III e IV