(Texto I)
Pronomes
Antes de apresentar o Carlinhos para a turma, Carolina pediu:
— Me faz um favor?
— O quê?
— Você não vai ficar chateado?
— O que é?
— Não fala tão certo?
— Como assim?
— Você fala certo demais. Fica esquisito.
— Por quê?
— É que a turma repara. Sei lá, parece...
— Soberba?
— Olha aí, ‗soberba‘. Se você falar ‗soberba‘ ninguém vai saber o que é. Não fala ―soberba‘. Nem ‗todavia‘. Nem ‗outrossim‘. E cuidado com os pronomes.
— Os pronomes? Não posso usá-los corretamente?
— Está vendo? Usar eles. Usar eles!
O Carlinhos ficou tão chateado que, junto com a turma, não falou nem certo nem errado. Não falou nada. Até comentaram:
— Ó Carol, teu namorado é mudo?
Ele ia dizer ‗Não, é que, falando, sentir-me-ia vexado‘, mas se conteve a tempo. Depois, quando estavam sozinhos, a Carolina agradeceu, com aquela voz que ele gostava.
— Comigo você pode botar os pronomes onde quiser, Carlinhos. Aquela voz de cobertura de caramelo.
(VERISSIMO, Luis Fernando. Contos de verão. O Estado de São Paulo, Janeiro/2000)
(Texto II)
(...)
A linguagem humana: do mito à ciência
O uso de determinada variedade linguística marca a inclusão num dado grupo social e dá uma identidade a seus membros. Aprendemos a distinguir as diversas variedades e, quando alguém começa a falar, sabemos se a pessoa é um gaúcho, um carioca, um paulista e assim por diante. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais jovens; outros
indicam que o falante tem mais idade. As variantes linguísticas conferem uma identidade às pessoas, sejam elas pessoas do mundo real ou personagens, que são pessoas de ficção.
Ridicularizar a variante usada por alguém é uma atitude muito agressiva, pois estamos zombando do próprio ser da pessoa. Existe um julgamento social sobre as variantes: algumas são consideradas elegantes e outras feias. (...) Escarnecer de alguém, por causa da variante linguística utilizada, é mostra de preconceito, de dificuldade de conviver com as diferenças.
(...)
(FIORIN, J. L. A linguagem humana: do mito à ciência. In. Linguística? O que é isso? J. L. Fiorin (Org). São Paulo: Contexto, 2013 – p. 27)
Os textos I e II focalizam nas suas temáticas aspectos relativos