Texto I:
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. [...] Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. [...] Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem.
Texto II:
ANTES DO NOME
Não me importa a palavra, esta corriqueira,
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
O “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível muleta que me apoia.
Quem entender a linguagem entende Deus, cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
Os dois textos revelam certa compreensão sobre o poder da palavra poética. A metáfora do peixe vivo com a mão, provocada por Adélia Prado no texto II, está em conexão mais bem ilustrada com a seguinte expressão do texto I: