Questão
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
2013
Fase Única
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Texto I

Consumo ultrapassou capacidade de renovação que a Terra poderia oferecer

Agência Brasil

A cota de recursos naturais que a natureza poderia oferecer em 2013 se esgotou na última terça-feira (20). A data, inclusive, assinalou o Dia da Sobrecarga da Terra, marco anual de quando o consumo humano ultrapassa a capacidade de renovação do planeta. O cálculo foi divulgado pela Global Footprint Network (Rede Global da Pegada Ecológica), organização não governamental (ONG) parceira da rede WWF.

O levantamento compara a demanda de recursos naturais empregados na produção de alimentos com a capacidade da natureza de regeneração e de reciclagem dos resíduos, a chamada pegada ecológica (medida que contabiliza o impacto ambiental do homem sobre esses recursos). Em menos de oito meses, o consumo global exauriu tudo o que a natureza consegue repor em um ano e, entre setembro e dezembro, o planeta vai operar no vermelho, o que causa danos ao meio ambiente.

De acordo com a Global Footprint Network, à medida que se aumenta o consumo, cresce o débito ecológico, traduzido em redução de florestas, perda da biodiversidade, escassez de alimentos, diminuição da produtividade do solo e o acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Essa sobrecarga acelera as mudanças climáticas e tem reflexos na economia.

Segundo os cálculos dessa contabilidade ambiental, a Terra está entrando “no vermelho da conta bancária da natureza” cada vez mais cedo. No ano passado, o Dia da Sobrecarga ocorreu em 22 de agosto. Em 2011, em 27 de setembro.

Para o diretor executivo da Conservação Internacional, André Guimarães, a humanidade vai pagar a conta desse consumo excessivo na forma de perda de qualidade de vida, de mais pobreza e doenças, caso não mude esse quadro. “Esse ritmo de consumo no longo prazo vai culminar na exaustão dos recursos naturais. Estamos colocando nossa qualidade de vida e nosso futuro em risco. Se consumirmos em excesso a natureza, em algum momento vamos ter que pagar essa conta na forma de poluição, doenças, água menos disponível para nosso desenvolvimento e nosso uso, pobreza e falta de alimentos”, disse Guimarães.

Para o ambientalista, o desafio para as nações é achar uma maneira de se desenvolver reduzindo a demanda pelo capital natural. “Assim conseguimos fechar a equação de meio ambiente preservado e economia sustentável”.

Segundo pesquisas da Global Footprint Network, os atuais padrões de consumo médio da humanidade demandam uma área de um planeta e meio para sustentá-los. As projeções indicam que se o estilo de vida continuar no ritmo atual, o homem precisará de duas Terras antes de 2050.

Estudos da ONG internacional mostram que, no início da década de 1960, a humanidade empregou somente cerca de dois terços dos recursos ecológicos disponíveis no planeta. Esse panorama começou a mudar na década seguinte, quando o aumento das emissões de gás carbônico e a demanda humana por recursos naturais passaram a exceder a capacidade de produção renovável do planeta.

Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países devedores ecológicos já esgotaram seus próprios recursos e têm de importá-los. No levantamento da Global Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam necessárias quatro Itálias para abastecer os italianos.

Nesse panorama traçado pela Global Footprint Network, o Brasil aparece ao lado das nações que ainda são credoras ambientais, com reservas naturais abundantes. Esse quadro, porém, está mudando. O presidente da ONG, Mathis Wackernagel, lembra que o país tem uma grande riqueza natural que está sob pressão devido ao aumento populacional e aos padrões de consumo. “O Brasil precisa reconhecer sua riqueza e saber como pode usá-la sem gastá-la. O capital natural vai se tornar cada vez mais importante em um mundo com restrições de recursos”, disse Mathis, que enfatiza a importância de se investir em energia solar e eólica.

Segundo o diretor executivo da Conservação Internacional, o Brasil ainda tem abundância de capital natural e espaço para crescer. “Os países desenvolvidos já ultrapassaram o limite de consumo de matérias-primas naturais. Se todos os habitantes da Terra tivessem o mesmo padrão de consumo dos norte-americanos, nós íamos precisar de quase cinco planetas para dar conta das demandas da população. O padrão de consumo dos países desenvolvidos desorganiza essa balança e o Brasil está na posição intermediária caminhando a passos largos para ser um alto consumidor de capital natural”, declarou André Guimarães.

Para ambientalistas, a sociedade precisa repensar seu estilo de vida. Nesse contexto, dizem, a educação e a informação são instrumentos importantes para uma mudança de valores. De acordo com a secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, cidadãos e governos têm papel fundamental na redução dos impactos do consumo sobre os recursos naturais. “Políticas públicas voltadas para esse fim, como a oferta de um transporte público de qualidade e menos poluente, construção de ciclovias e o estímulo ao consumo responsável são essenciais para reduzir a pegada ecológica”, disse Maria Cecília.

Ela lembra que as pessoas podem fazer sua parte. Reduzir o desperdício de água e energia, o consumo de carne bovina e de alimentos altamente processados, usar mais transporte coletivo e adquirir produtos certificados são algumas das atitudes recomendadas.

“É importante que as pessoas se lembrem de que qualquer desperdício de energia, por menor que pareça, está sendo feito às custas do planeta, ao gastar mais combustível fóssil. Podemos fazer nossas escolhas lembrando que a Terra é finita, como é a nossa conta no banco. A gente só tem esse planeta, por que não cuidar dele?”, ressaltou a secretária-geral do WWF-Brasil.

http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2013/08/24/consumo-ultrapassou-capacidade-de-renovacao-que-a-terra-poderia-oferecer/

Texto II

Mudando os padrões de produção e consumo urbanos

Jacques Ribemboim

Doutor em Economia, UFPE

Muitos pesquisadores observaram empiricamente que a correlação entre renda e bem-estar, conquanto bastante óbvia para os primeiros estágios do desenvolvimento, passa a ser contestada em níveis de renda mais altos. Avalia-se que esta correlação só persiste até o patamar de dezesseis mil dólares per capita (Pearce and Turner, [1990]). A se observar a preocupação dos estudiosos e dos indivíduos mais conscientes, parece-nos que as pessoas começam, afinal, a perceber que a busca desenfreada por consumo material é um objetivo que está para muito aquém da nossa capacidade inventiva, afetiva e moral.

Até meados deste século, costumava-se definir “desenvolvimento” como “aumento de consumo”. Desde então, a Humanidade foi descobrindo paulatinamente o equívoco em que incorria. Os anos setenta foram os anos da percepção. Os anos oitenta, da reflexão. Quem sabe não sejam os anos noventa guardados para o futuro como sendo os anos da inflexão?

O que se constata, porém, é que os atuais padrões de consumo são, ainda, insustentáveis por excelência, injustos socialmente e depredadores do meio ambiente. Urge, portanto, o estabelecimento de um novo paradigma de desenvolvimento. O consumismo materialista desmedido e o individualismo imposto exclusivamente pela lógica do mercado precisam ceder espaço para uma forma de convivência mais nobre com a Natureza e com os nossos semelhantes, em que as demandas éticas, afetivas, espirituais, artísticas e culturais adquiram uma posição preponderante. Contrapondo-se a “crescimento” surge o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Ao desenvolvimento técnico contrapõe-se o desenvolvimento ético. À eficiência, contrapõe-se a moral – não como antíteses, mas como sujeição das primeiras. Este é o grande desafio da humanidade, às portas do século XXI.

Estas questões são acentuadas no espaço urbano, onde a proximidade física, o crescimento populacional e a urbanização acelerada, as economias de escala e a conturbação das cidades são sentidas com a perda da qualidade de vida decorrente das externalidades negativas do crescimento sem controle, resultando em violência urbana, contaminação do ar e da água, congestionamentos etc.

Políticas públicas favoráveis deveriam incentivar o uso sustentável dos recursos naturais, a eliminação de desperdícios, coleta de lixo seletiva e reciclagem, recuperação de centros urbanos e bairros degradados, aumento da oferta quantitativa e qualitativa das vias públicas, enfim, a identificação de ações com alto potencial para propiciar externalidades positivas, não apenas a redução das externalidades negativas.

RIBEMBOIM, Jacques Alberto. Mudando os padrões de produção e consumo urbanos. In: IX Encontro Nacional da ANPUR, 2001, Rio de Janeiro. Anais do IX Encontro Nacional da ANPUR, 2001.

Considerando os textos I e II, pode-se dizer que os autores:
A
tratam do desenvolvimento sustentável como saída para o impasse ecológico.
B
atribuem aos governos a responsabilidade sobre os desafios ecológicos.
C
protestam contra a falta de consciência das populações sobre a ecologia.
D
demonstram que aumento de consumo não gera desenvolvimento.
E
discutem os efeitos negativos do consumo sobre a ética das pessoas.