Texto I
Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe?
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a Fama te exalte e te lisonje
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Edição crítica de Francisco da Silveira Bueno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000, p. 78)
Texto II
Por que tanta oceania? tanta etiópia
por fogo e ferro sempre conquistadas?
Por que tanta aflição por tanta cópia
salvadores de terras fatigadas?
Cornualhas desse mundo, cornucópia
de promessas jamais realizadas?
Por que esse messianismo vos lisonje
pretendeis encarnar o que está longe.
(LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 87)
O fragmento citado no texto I compõe-se de interrogações conhecidas como “perguntas retóricas”, as quais dispensam respostas, pois contêm em si uma afirmação. Em tais perguntas, percebe-se que o eu poético dá voz ao: