Texto II
[…]
Padre – Peço que desculpe um pobre padre sem muita instrução. Qual é a doença? Rabugem?
Antônio Moraes – Rabugem?
Padre – Sim, já vi um morrer disso em poucos dias. Começou pelo rabo e espalhou-se pelo resto do corpo.
Antônio Moraes – Pelo rabo?
Padre – Desculpe, desculpe, eu devia ter dito ―pela cauda‖. Deve-se respeito aos enfermos, mesmo que sejam os de mais baixa qualidade.
Antônio Moraes – Baixa qualidade? Padre João, veja com quem está falando. A Igreja é uma coisa respeitável, como garantia da sociedade, mas tudo tem um limite!
Padre – Mas o que foi que eu disse?
Antônio Moraes – Baixa qualidade! Meu nome todo é Antônio Noronha de Brito Moraes e esse Noronha de Brito veio do Conde dos Arcos, ouviu? Gente que veio nas caravelas, ouviu?
Padre – Ah bem e na certa os antepassados do bichinho também vieram nas caravelas, não é isso?
Antônio Moraes – Claro! Se meus antepassados vieram, é claro que os dele vieram também. Que é que o senhor quer insinuar? Quer dizer por acaso que a mãe dele procedeu mal?
Padre – Mas uma cachorra!
Antônio Moraes – O quê?
Padre – Uma cachorra!
Antônio Moraes – Repita!
Padre – Não vejo nada de mal em repetir, não é uma cachorra mesmo?
Antônio Moraes – Padre, não o mato agora mesmo porque o senhor é um padre e está louco, mas vou me queixar ao bispo. [A João.] Você tinha razão. Apareça no Angicos, que não se arrependerá.
[Sai.]
Padre – [Aflitíssimo.] Mas me digam pelo amor de deus o que foi que eu disse.
[...]
(SUASSUNA, Ariano. Auto da compadecida. 35 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 33-34.)
O nome “bichinho” está no grau diminutivo. Sobre os efeitos de sentido do uso desse diminutivo no texto, é CORRETO afirmar que: